Em virtude daquele mesmo email remetido pelo Célio Gouveia a vários espíritas, respondido em nosso outro artigo Analisando “Erros do Espiritismo”, reproduzimos agora uma outra resposta, a de Marcos Arduin.
10/09/2020
O padre Jonas Abib diz em um livro que muitos carismáticos consideram espíritas as curas. Os padres americanos Robert DeGrandis e Eduardo (TV Século 21), e os brasileiros Alberto Gambarini e o Jonas Abib usam ensinos mosaicos, como se fossem do próprio Deus, para atacarem o Espiritismo e a reencarnação.
E afirmam que os espíritos dos espíritas são demônios e que os seus são de Jesus e de Deus! As suas curas entre gerações são curas de influências (obsessões) de espíritos dos seus antepassados, o que é Espiritismo. E essas curas entre gerações são também feitas por regressão de memória a passados longínquos. Na verdade, elas são, pois, a terapia de vivências passadas (TVP), e que é exercida hoje em todo o mundo por psicólogos e médicos terapeutas dessa área, iniciada que foi em 1880 pelo francês Albert de Rochas. Para os profissionais da TVP, os pacientes, identificando em uma vida anterior a causa de um seu problema atual, psicológico ou mental (fobia, traumas etc.), ficam curados.
Quando os carismáticos se vêem nessas regressões, como sendo, por exemplo, uma mulher, eles concluem erroneamente que se trata de sua bisavó, quando são eles mesmos. E os pecados da velha, para eles, seriam a causa de seus problemas de hoje. A Genética ensina que nós podemos herdar doenças de nossos antepassados, sim, mas não por causa dos pecados deles.
O padre DeGrandis, em “Cura entre gerações”, pág.30, citando um texto bíblico incompleto, ensina que os descendentes pagam os pecados dos seus antepassados: “Os pais comeram uvas azedas, e os dentes dos filhos ficaram embotados”. Mas na íntegra, esse texto contradiz DeGrandis: “Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: “Os pais comeram uvas azedas, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados? Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, jamais direis este provérbio em Israel”(Ezequiel 18, 2 e 3). E, no versículo 20, Ezequiel completa: “A alma que pecar, essa morrerá: o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho”. Minha coluna “Turbulências da fé”, de 2-2-2004, mostra a reação de padres de Belo Horizonte aos programas de TV desses padres carismáticos, que servem a Deus e a mamom, e confundem os católicos.
Renunciemos aos falsos profetas e aos dirigentes religiosos cegos e de fé cega e fundamentalista, que trava a caminhada da Igreja!
Precisaríamos do espaço de um volumoso livro para abordar o site http://br.geocities.com/falhasespiritismo/index_int_2.html Mas fá-lo-emos assim mesmo. Ele cita Flávio Josefo, Procópio, são Clemente de Alexandria, Orígenes, são Gregório de Nissa, são Jerônimo, Kardec, Leons Denis, Elizabeth C. Prophet, N. Langley, H. Kersten, dom Estêvão Bitencourt, S. Celestino, este colunista e outros.
E já que os espíritas gostam de estudar, vale a pena ver o site, apesar das falhas. São simplistas algumas de suas questões, que se apoiam em teses também simplistas. Kardec disse que se houver divergência entre um ensino espírita e a ciência, que se seguisse a ciência.
De fato, o espiritismo não se considera infalível. Aliás, nem Jesus sabia tudo! Céptico, o site critica os Evangelhos. E desfaz-se do inconsciente coletivo de Jung, dos campos morfogenéticos, do adamantino Pastorino e do renomado cientista Ian Stevenson, diretor do Dtº de Psiquiatria da U. de Virgínia, o qual pesquisa o fenômeno da reencarnação, há mais de 50 anos e em mais de 40 países, autor duma obra de 2.300 páginas (2 volumes) sobre a reencarnação, e admirado por todo o mundo científico.
São de autoria de Procópio (morto em 562) “Histórias das Guerras de Justiniano” e “História Secreta”. Ele registra, de modo diferente, o episódio de 500 prostitutas, que, segundo vários autores, foram assassinadas a mando da imperatriz Teodora, esposa de Justiniano, que era mesmo sanguinário, pois mandou matar cerca de um milhão de pessoas adeptas da reencarnação no Oriente Médio, após a condenação dela pelo Concílio de Constantinopla, em 553 (Paul Brunton, “Idéias em Perspectivas”, pág. 118, Ed. Pensamento).
Não teria Procópio contado essa história de modo diferente, justamente porque era amigo do casal imperial? E porque o site desconhece outras fontes que registram essa história das prostitutas assassinadas, ele tenta depreciar o meu livro “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”, EBM Ed., SP, e outras obras que falam do assunto. E é insustentável a sua tese de que só se conhece um autor, lendo suas obras, pois Jesus, Sócrates e outros grandes vultos da História não escreveram nada. Aliás, o próprio site se contradiz nisso, ao defender ideias de certos autores tiradas de obras de outros autores.
Realmente, as críticas desse site não persuadem ninguém!
Ciência
Muito se tem falado a respeito que o espírito evolui infinitamente, apesar de o livro dos espíritos já definir a questão na pergunta 112, 113.
Classe única tendo atingido a soma da perfeição que é susceptível a criatura.
[…]
Filosofia
Ao chegarmos a perfeição relativa à criatura seremos perfeitos como Jesus de Nazaré, mas sabemos que Deus cria incessantemente; logo Deus criará infinitamente isto é, sem fim. Se uma alma mesmo perfeita ainda pode aprender vai ser superior em algum tempo a uma alma que acabou de chegar à perfeição pois que adquiriu conhecimento nesse intervalo de tempo, mas sabemos que Deus cria infinitamente e por toda eternidade, então em um intervalo de tempo infinito, pois o espírito é imortal, terá essa alma adquirido infinito conhecimento, logo seria infinitamente superior a outra noviça na perfeição deixando de haver classe única , mesmo porque se assim fosse ela se igualaria a Deus tendo esse que evoluir para continuar sendo absoluto em conhecimento que já é uma negação de um de seus atributos imutável.
Religião
A religião espírita é consequência da razão, como pudemos ver em o livro dos espíritos. Na escala espírita não há distinção entre os puros; e nos diz o espírito Georges, que segundo Allan Kardec, quando vivo tinha todos os caracteres do homem de bem, na revista espírita de outubro 1860 concordando com a codificação, pois os superiores não se contradizem, nos diz ele:
[…]
(Resposta à matéria “Reencarnação”, do Sr. Orlando Fedeli, na qual o autor apresenta 20 itens contrários à reencarnação. Cada uma das colocações do Sr. Fedeli é seguida da resposta nossa).
Introdução
Há vários argumentos usados pelos anti-reencarnacionistas contra a doutrina das vidas sucessivas. Vamos abordar, nesta matéria, 20 desses argumentos mais freqüentes e que constam do artigo do Sr. Orlando Fedeli, mas que não são só dele, pois já foram apresentados por outros adversários da reencarnação. Para a clareza dos assuntos, teremos um parágrafo para cada item. E, algumas vezes, o complemento de uma resposta deixa de aparecer num item, para aparecer em outro afim com aquele em que está inserido o questionamento do Sr. Orlando Fedeli.
A questão da criação por Deus do mundo, do homem e dos outros seres vivos, bem como a da evolução, criou muitas celeumas entre os teólogos e os cientistas materialistas do passado. Mas hoje, os teólogos não consideram incompatíveis o criacionismo e o evolucionismo, exceto uma parte dos teólogos evangélicos. Para stº Agostinho, Deus criou todas as coisas em esta do potencial (de semente).
De fato, cada espécie tem o gérmen de seus descendentes, que vão surgindo, transformando-se e renovando os seres vivos da Terra. Aquela teoria bíblica de que Deus fez o mundo em seis dias, e o boneco de barro chamado Adão, em cujas narinas Deus soprou, é mitológica, se interpretada ao pé da letra. A idéia é de que o corpo adâmico veio da terra. Os seis dias da criação são períodos de milhões de anos cada um. E Deus poderia esta descansando até hoje, se interpretássemos também literalmente o texto! Como se sabe, Deus é incansável.
Huberto Rohden, em “O Homem”, condena a teoria mitológica ou da interpretação literal da Bíblia. E, segundo ele, o homem não vem do animal, mas de Deus, através do animal, como a água vem da fonte através do cano. Porém não entendemos por que Rohden condena a tese do fisiologista inglês Darwin.
Vejamos. Se para Rohden, a fonte do homem é Deus e não um animal, o que é certo, mas ao mesmo tempo ele aceita que o homem vem através do animal, ele está também aceitando que o homem, em seu espírito ou sua essência numenal, teve seus momentos de estar, igualmente, em um animal, como a água teve seus instantes de estar num cano. Por que, então, esse animal ou um dos animais não poderia ser o macaco, em consonância com Darwin?
O criacionismo é uma grande verdade, pois fomos criados por Deus. E temos duas evoluções: a biológica (animal ou darwinista) e a espiritual (moral), norteada pelo nosso intelecto e nosso livre-arbítrio. “Somos transformados de glória em glória, na própria imagem do Senhor” (2 Co 3,18), caminhando sempre na direção da perfeição do Pai, até que adquiramos, um dia, o estado angélico ou de espíritos puros!
Alguns segmentos religiosos acusam os Espíritas de se utilizarem da Bíblia de acordo com a própria conveniência. Alegam que como os Espíritas não a consideram a “palavra de Deus”, não deveriam, portanto, utilizá-la. Consideram os Espíritas uns hipócritas por falarem de Jesus para citar apenas aquilo que lhes convêm. Esquecem-se de que na verdade todos os diferentes segmentos cristãos fazem exatamente a mesma coisa, e o motivo para isto é muito simples – não há uma concordância geral a respeito do que está escrito na Bíblia nem mesmo entre aqueles que a consideram a “palavra de Deus”. Alguns cristãos alegam que para se entender a Bíblia é necessário que o Espírito Santo os guie e a interprete para eles. O interessante é que existem inúmeros assuntos que cristãos sinceros e “cheios do Espírito Santo” discordam em termos de interpretação. Como explicar essas inúmeras doutrinas e interpretações bíblicas tão diferentes umas das outras? Por que estaria o Espírito Santo, que supostamente ajudaria os crentes a entender e interpretar a “palavra de Deus”, causando todas essas interpretações diferentes entre crentes sinceros? Estaria o Espírito Santo confuso? Eu vou dar uma pequena amostra de alguns pontos em que crentes sinceros e que se consideram “cheios do Espírito” discordam em termos de interpretação bíblica.
Segundo a filosofia, tudo demais é ruim. E, sem querer fazer menoscabo dos verdadeiros místicos, ousamos afirmar que o apego exagerado a uma crença, quase sempre produz efeitos nocivos para as pessoas, inclusive para a sua evolução espiritual.
Uma fé fervorosa costuma ser sinônimo de fanatismo religioso, tornando-se, muitas vezes, como que um meio de o indivíduo extravasar coisas do seu ego orgulhoso. Daí ele desejar que sua religião tenha o máximo de adeptos e querer pregá-la para todo mundo e para todo o mundo.
No fundo, o religioso é fanático porque ele não tem uma fé inabalável nas doutrinas da religião que ele professa. O pior é que ele ignora isso. E o fanatismo religioso é como que uma droga na vida das pessoas, pelo que é preferível não ter uma religião, a tê-la com fanatismo.
Quantas tragédias, quantas mortes nas fogueiras da Inquisição e nas campanhas das várias Cruzadas, quantos conflitos, quantas guerras, quanto sangue derramado por causa do fanatismo religioso! A própria morte de Jesus teve como uma de suas causas o fanatismo religioso dos sacerdotes judeus de sua época.
E hoje, muitas igrejas, abusando da literalidade na interpretação da Bíblia, condenam ao inferno, que pra eles não é metafórico, todos os que não pertencem à sua igreja. E para eles a Bíblia é “ipsis litteris” a palavra de Deus, frase essa herdada dos rabinos pela Igreja, mas já abandonada por ela e abraçada pelos evangélicos.
Conscientizemos-nos da verdade libertadora, desvencilhando-nos das superstições advindas de crendices religiosas exageradas que não salvam ninguém, pelo contrário, elas até criam geralmente obstáculos para a nossa libertação.
Deus poderia, por acaso, discriminar os deficientes físicos, aos quais a Igreja dedica, agora em 2006, a sua sempre louvável Campanha da Fraternidade? Mas a Bíblia fá-lo, proibindo-os de oferecerem o pão do seu Deus (Levítico 21, 16 a 21). Essa palavra não pode ser de Deus. Crer que o seja, é crer demais!
Uma questão que prejudica muito o cristianismo é que quase tudo que os teólogos afirmam é mistério. Não gosto de ver o cristianismo caracterizado como sendo a “religião dos mistérios”, pois mistério para mim é outra maneira de dizer que a doutrina é insustentável.
O Espírito Santo só foi instituído oficialmente no Concílio Ecumênico de Constantinopla (381), ao qual a Bíblia foi adaptada. E a sua teologia foi bem montada por stº Agostinho e stº Tomás de Aquino. Lingüística, semântica e etimologicamente falando, em alemão “heilig” (santo) é um termo derivado de “heil” (total). E, em inglês, “holy” (santo) vem de “whole” (total). É o Jesuíta Huberto Rohden (“O Sermão da Montanha”, pág. 136, Ed. Martin Claret, São Paulo, SP), quem nos mostra essas derivações.
E para Rohden – como o demonstrei também na minha coluna anterior -, “total” na etimologia das duas palavras alemã e inglesa significa “universal”, porque o homem total, santo, por estar numa sintonia total com Deus e o universo, é universal.
E o espírito humano, por ser derivado de Deus, é santo por natureza, embora ainda o seja só em estado potencial ou de semente. Daí que, no hebraico do Velho Testamento, temos “Ruach ha Kodesh” (Espírito do Santo) e no grego do Novo Testamento, “Pneuma Hagion” (Espírito Santo ou Santo Espírito).
O sentido dessa expressão é o Espírito do Santo (homem e não Deus) ou o Espírito Santo do homem. “Farei levantar-se entre vós um homem de um Espírito Santo chamado Daniel” (Daniel 13,45, da Bíblia Católica, pois a protestantes vai só até o capítulo 12).
Também são Paulo, que ainda não conhecia o Espírito Santo trinitário, disse: “Nós somos templos de um Espírito Santo”. Os tradutores colocaram o artigo definido “o” em vez do indefinido “um”, para se entender o Espírito Santo da Trindade (nosso livro “A Face Oculta das Religiões”, capítulo 7, EBM Ed., Santo André, SP).
O Espiritismo não nega o Espírito Santo, apenas O interpreta como sendo o conjunto de todos os espíritos, ou seja, de conformidade com o sentido original bíblico. Que o Pai, eu e vocês (o Espírito Santo) sejamos todos um, ensinou o Mestre!
Por que perde o Espírito encarnado a lembrança de seu passado: “Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido de seu passado, ele é mais senhor de si.” (Questão 392 de “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec – FEB)
Gil Restani de Andrade
Dentre os obstáculos interpostos para a compreensão, o entendimento e a aceitação da reencarnação como a verdade inelutável que é, encontra-se o questionamento feito com frequência sobre o fato de não nos lembrarmos das vidas anteriores.