Tentaremos fazer uma pesquisa sobre esse tema, para ver se realmente tal ser existe ou não. Primeiramente, devemos buscar conhecer sua origem.
28/09/2020
Recebemos um pedido de um leitor para desenvolvermos um estudo sobre o tema acima. É o que tentaremos fazer. Por ser assunto ligado especialmente às crenças religiosas, nos leva a buscar a Bíblia como fonte de pesquisa.
Todos aqueles que não acreditam na possibilidade da reencarnação aceitam, pelo menos, essas duas hipóteses: ressurreição física e penas eternas. A questão que colocamos é: será que com isso a justiça divina se manifesta de forma plena? Poderíamos conciliar tais coisas como determinados textos bíblicos, sem nenhuma incompatibilidade? Vejamos:
a) Ressurreição física
– Se Jesus ressuscitou fisicamente, por que, então, Ele aparece a Paulo em Espírito (At 16,7; Fp 1,19) e não em corpo físico?
– Teria como se provar biblicamente que uma só pessoa normal tenha ressuscitado em Espírito e ido para o céu? É fácil dizer que isso acontecerá no futuro, porquanto, assim se foge de ter que se provar.
– Se iremos para o plano espiritual de corpo físico, a firmação de Paulo de que “a carne e o sangue não herdarão o reino dos céus” (1Cor 15,50) é completamente sem sentido, para não dizer mentirosa.
– Se Jesus disse que na ressurreição nós seremos como os anjos do céu (Mt 22,30), não havendo, portanto, no outro lado da vida, casamento entre homens e mulheres, o que nos leva a concluir que essa ressurreição é espiritual, pois sabemos que os anjos são seres espirituais, mas como afirmam que ressuscitaremos fisicamente?
– Se pela parábola do rico e Lázaro (Lc 16,19-31), podemos ver que nela não se fala em ressurreição física, inclusive, não se afirmou que o rico foi enterrado, ressuscitou e foi para o lugar de “tormentos”, como então admitir uma outra ressurreição que não a espiritual?
b) Penas eternas
– Como acreditar no inferno se não há relato de sua criação? Em Gênesis apenas encontramos a citação da criação da Terra e do céu.
– Se não houve a sua criação no início, teria que, pelo menos, tê-lo criado num momento em que se estabelecesse alguma norma a ser cumprida. Quando Deus disse a Adão e Eva “não coma desse fruto” ameaçou-os com o fogo do inferno? E em relação aos dez mandamentos, há alguma coisa que manda para esse lugar quem não os cumprir? Não se pode penalizar alguém com uma pena não prevista em Lei, isso é o que estabelece a falha legislação humana, a divina seria pior?
– Se é justo que uma pessoa que viveu 100 anos não cumprindo as leis divinas, merecer a eternidade como pena? Por qual senso de justiça isso é aplicado?
– Considerando que Jesus disse “perdoar setenta vezes sete” (Mt 18,22) essa recomendação vale para nós e não para a própria divindade? Será que assim não estaria agindo como se diz no ditado popular “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”?
– A legislação humana, de uma forma geral, não estabelece pena perpétua para os criminosos, já que visa recuperá-los, o que julgamos ser uma evolução da humanidade em relação à penalização dos criminosos, estaria pois a legislação divina na contra-mão disso? Será que estamos sendo melhor que Deus, no tratamento para com os criminosos?
– Haveria como conciliar penas eternas com “O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades” (Sl 103,8-10)?
– Jesus disse “Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas a seus filhos, quanto mais o Pai de vocês que está no céu dará coisas boas aos que lhe pedirem” (Mt 7,11), alguém teria como explicar que penas eternas sejam “coisas boas” que Deus nos dá?
– Considerando que uma mãe vá para o céu e os filhos para o inferno, ela conseguiria ficar feliz naquele lugar vendo os seus filhos no inferno? Será que as mães, que são totalmente dedicadas aos filhos, passando fome, frio e sede, para que eles não passem por isso, depois da morte ficará completamente insensível ao sofrimento deles? Que tipo de vida é esse do outro lado que nos torna pior do que éramos aqui, quando vivos?
Na nossa maneira de pensar a única coisa que não fere a justiça e misericórdia divinas é a reencarnação. E é por ela que todos, sem qualquer tipo de sectarismo, chegaremos à condição de merecer estar junto ao Pai. Portanto, a reencarnação acaba com qualquer exclusivismo divino, até porque “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), colocando todos nós no mesmo nível de tratamento e explica o porquê de umas pessoas nascerem cegas, aleijadas, doentes, etc., sem ferir o senso de justiça, já que nós apenas colhemos o que plantamos, valendo o precito “aquilo que semear, isso também colherá” (Gl 6,7).
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Ago/2007
Gostaria fazer algumas considerações sobre os nossos companheiros evangélicos.
Vejo sempre as discussões, os textos por eles criados, contra todas as religiões ou crenças diferentes das deles, os ataques à fé alheia, sem piedade, dentre tantas outras coisas.
Tenho me lembrado de tantos acontecimentos similares ao longo da História da Humanidade, sempre sendo usado o nome de Deus e de Jesus.
Levando em consideração como os espíritos trevosos trabalham, nas sombras, muito sutilmente, pergunto: como é que se realiza uma “lavagem cerebral” nos fiéis evangélicos? Esse trabalho, obviamente, não é dos homens. Dentro do Espiritismo conhecemos muito bem o perigo das obsessões realizadas por espíritos impiedosos e voltados para a luta contra o Cristo. E sabemos que a fascinação é a pior delas, onde a pessoa tem pensamentos e idéias “colocadas” em sua mente e as consideram fruto de sua própria inteligência, quando não uma verdade vinda diretamente de Deus. Eles realmente acreditam no que falam! E acham que é o Espírito Santo que lhes inspira o pensamento!
Vejamos o que temos na literatura espírita sobre o assunto:
239. A fascinação tem conseqüências muito mais graves. E uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem mais ridícula. Fora erro acreditar que a este gênero de obsessão só estão sujeitas as pessoas simples, ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham isentos nem os homens de mais espírito, os mais instruídos e os mais inteligentes sob outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma causa estranha, cuja influência eles sofrem.
Já dissemos que muito mais graves são as conseqüências da fascinação. Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o indivíduo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade. Ainda mais, pode levá-lo a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas. – Alan Kardec – O Livro dos Médiuns – cap. XXIII.
56. A obsessão é o império que maus Espíritos tomam sobre certas pessoas, tendo em vista dominá-las e submetê-las à sua vontade, pelo prazer que sentem em fazer o mal. Quando um Espírito, bom ou mau, quer agir sobre um indivíduo, ele o envolve, por assim dizer, com o seu perispírito, como um manto; os fluidos se penetram, os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e o Espírito pode, então, se servir desse corpo como do seu próprio, fazê-lo agir segundo a sua vontade, falar, escrever, desenhar, tais são os médiuns. Se o Espírito é bom, a sua ação é doce, benfazeja; ele não leva a fazer senão boas coisas; se é mau, leva a fazê-las más; se é perverso e mau, constrange-o, como numa rede, paralisa até a sua vontade, o seu julgamento mesmo, que abafa sob o seu fluido, como se abafa o fogo sob uma camada de água; fá-lo pensar, falar, agir por ele, impele-o, apesar dele, a atos extravagantes ou ridículos, em uma palavra, o magnetiza, o cataleptiza moralmente, e o indivíduo se torna um instrumento cego de suas vontades. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em graus de intensidade muito diferentes. – Alan Kardec – Obras Póstumas – pág 59.
Do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito mau. A causas físicas se opõem forças físicas; a uma causa moral, tem-se de opor uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para isentá-lo da obsessão, é preciso fortificar a alma, pelo que necessário se torna que o obsidiado trabalhe pela sua própria melhoria, o que as mais das vezes basta para o livrar do obsessor, sem recorrer a terceiros. O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio.
Quase sempre, a obsessão exprime a vingança que um Espírito tira e que com freqüência se radica nas relações que o obsidiado manteve com ele em precedente existência.
Nos casos de obsessão grave, o obsidiado se acha como que envolvido e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. – Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap XXVIII. Estes textos, retirados das obras básicas, são uma pequena amostra do que temos relacionado sobre a fascinação. De acordo com o que vimos acima, a pessoa que está subjugada por espíritos que têm o interesse de lutar contra o avanço do bem nesta Terra, age de forma que julga ser ela mesma a criadora de tais idéias ou se
julga a serviço de Deus.
No passado vimos as perseguições realizadas contra os cristãos, primeiro pelos romanos, nos sacrifícios dos circos e depois pelos próprios cristãos, na inquisição. Neste último caso, os próprios religiosos realizavam horrores em nome de Deus. Atualmente, temos uma perseguição mais sutil, mas nem por isso menos terrível, já que são religiões contra religiões, e todas defendendo o mesmo Cristo. É um grande paradoxo essa situação.
Mas o ponto onde quero chegar é a atuação das esferas inferiores nessa história toda. Sabemos que vários espíritos vieram para a Terra exilados de outras esferas, justamente por estarem realizando atrocidades e maldades num mundo que já não comportava tais atitudes. Então, numa manobra sábia, foram levados para um lugar ainda primitivo, onde suas más tendências poderiam se aproveitadas, trazendo crescimento e progresso para as criaturas nativas desse orbe: a Terra. Esses espíritos não vieram inconscientes de sua situação de deportados. Alguns já em sua segunda ou terceira deportação, tão arraigados na sua decisão de atuar no mal. Foram esses mesmos espíritos que viveram no Egito, que trouxeram em sua bagagem mental a idéia da queda do paraíso, de possibilidade de se reencarnar em corpos de animais. Que trouxeram inovações nas artes da guerra, na conquista do poder. E que também se passaram por deuses aos simplórios espíritos filhos da Terra.
Neste momento em que passamos, onde a Terra está na fase de transição, de graduação, estes mesmos espíritos, que por milhares de anos dominaram os homens, estão tentando sua última cartada, pois sabem que não mais poderão estar atuando aqui por muito tempo. Os seus instrumentos, nessa tentativa de atrasar a marcha dessa evolução, dentre outros, são justamente os nossos irmãos evangélicos, pela sua capacidade de acreditar de olhos fechados no que lhes é dito, pelo seu coração ainda fechado para as verdades espirituais. E até mesmo enviados das trevas estão atualmente encarnados como pessoas de poder neste setor da religião. Neste exato momento, estão se infiltrando na política e em vários segmentos da sociedade para poderem exercer sua influência com maior abrangência. È tudo muito bem planejado pelos espíritos interessados em que o Homem não conheça o Evangelho na sua essência. Em que o Homem não se reconheça filho e herdeiro de Deus.
Todas essas pessoas que atacam a Doutrina Espírita e as outras religiões são seus fiéis seguidores. O interesse é desmoralizar Jesus, pois sabem que Ele é quem está à frente deste novo movimento migratório de espíritos para outros orbes. É Jesus quem está orientando àqueles que se sintonizam com suas palavras a identificar e promover este exílio. E são os espíritas que estão respondendo com mais atuação neste sentido. Então, nada mais lógico que ser o Espiritismo seu alvo principal, a ser desmoralizado e destruído.
Estejamos muito atentos, pois não estamos simplesmente debatendo contra detratores do espiritismo, mas sim dentro de uma guerra de maiores proporções, onde o vencedor fica com poderes sobre a Terra. Sejamos muito vigilantes, para que não nos desviemos do foco, que nem sempre é estar respondendo aos ataques verbais destes irmãos controlados pelas trevas, mas sim de estarmos trabalhando para a limpeza de nossa casa, nosso planeta. Muitas vezes nos perdemos, desviamos nossa atenção para estes irmãos, que são na realidade uma distração, para focarmos nossas energias no ponto errado.
Estejamos atuantes em nossas casas espíritas, no sentido de alertar a vigilância e o cuidado, para que não nos desviemos do nosso principal objetivo: difundir o Espiritismo e o Evangelho para que nosso mundo chegue ao seu momento de maturidade limpo, com o Bem imperando e os Homens em sintonia com Deus. Saibamos criar momentos em nossos centros espíritas, onde a espiritualidade superior possa estar trabalhando esses espíritos, no sentido de resgata-los de seus erros. Pois muitos já estão cansados dessa guerra, mas não têm como fugir. Estão escravizados, obrigados pelos seus superiores a agirem contra o espiritismo, mas sabem que é no Espiritismo que está sua salvação. Muitas vezes se aproximam de irmãos espíritas, realizando obsessões, mas no fundo estão em busca de socorro. Se forem tratados como irmãos enfermos, em nossas reuniões de desobsessão, não raro se entregam e pedem por socorro, para si e para os seus. Se trabalharmos, cuidando desses espíritos escravizados, que influenciam nossos companheiros evangélicos, estaremos dificultando a ação das trevas. Claro que isso nos trará novos embates, mas se estamos ligados ao bem e a Jesus, teremos todo o apoio e respaldo para tal trabalho.
Portanto, estejamos defendendo o Espiritismo sim, mas também concentrando nossas forças, nosso intelecto e principalmente nosso coração no esclarecimento daqueles que estão por trás dos detratores, retirando-os do erro e os devolvendo ao seu lugar, que é como cristãos, no trabalho do progresso e implantação do Bem na Terra.
Alicia Caldas – Outubro de 2005
Agradeço aos Srs. Ildeu Vieira de Moura, de Uberlândia, MG, e Paulo Ângelo do Vale, de Belo Horizonte, MG, os comentários sobre a coluna “Mitificaram e antropomorfizaram Deus”, aos quais respondo.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (João, 1,1). No princípio, porque o Verbo é o Primogênito das Criaturas. E estava com Deus, porque estava na sintonia do Deus absoluto, único e incriado, o qual Stº Tomás de Aquino chamou de Ser Incontingente, e no dizer de Kardec, a Causa Primária de todas as coisas.
E o Verbo era Deus, mas não o Deus absoluto e Pai, e sim, um Deus relativo, contingente e Filho gerado do Deus absoluto. Aliás, todos nós somos também deuses relativos, contingentes (João 10,34 e Salmo 82,6), pois todos somos filhos do mesmo Deus absoluto e Pai de Jesus, como está na oração do Pai Nosso. O que é ensinado a mais sobre isso, veio da cabeça dos teólogos.
E argumentam eles que Deus, por amar muito a espécie humana, encarnou-se nela. Será que temos que nos encarnar em animais porque os amamos? O amor de Deus para conosco não está sujeito a causas ou efeitos, pois, por ser infinito, é incondicional.
Da confusão dos teólogos sobre Deus tem resultado que cristãos tornam-se judeus ou islâmicos, cujo Deus é único e claro. Mas o lamentável mesmo é que muitos caem no ateísmo! E o que está segurando o cristianismo é que a maioria dos beatos não sabe nada de teologia. E política à parte, pois eles não sabem mesmo!
Jesus é um Espírito Puro, muito especial e superior aos espíritos manifestantes na Bíblia. Por isso Deus (Pai, Javé, Alá, Brâman, Tao etc) enviou-O, encarnado, ao nosso mundo, para nos salvar ou libertar-nos dos erros. Ora, o que
envia é superior ao enviado, pois é o mandante.
Já o enviado é inferior, pois é o mandado. Logo, Jesus só pode ser mesmo Deus relativo, mesmo porque se Ele fosse Deus absoluto, Deus de fato, Ele estaria enviando a si próprio, pois seria seu próprio Pai! E, por acaso, poderia Jesus ser o mandante e o Pai o mandado?
Um dos graves problemas que trazem as teologias dogmáticas é fazer com que as pessoas percam completamente o senso crítico, passando a aceitar tudo que lhe dizem sem o mínimo questionamento. O Espiritismo, ao contrário, incentiva a análise crítica de tudo, exatamente como recomendou Paulo: “Examinai tudo e retende o que é bom”. (1Ts 5,21).
Independente do que estamos interpretando, o que vamos “ver” é tudo quanto nossa mente conseguirá assimilar, levando-se em conta os dados com os quais nosso cérebro foi alimentado, no decorrer de nossa existência como espírito imortal. Poucos conseguem se livrar disso, para enxergar um pouco “além do véu”, de forma a entender o sentido mais amplo, saindo da letra que mata, para ir ao encontro do espírito da letra.
Percebemos que a exegese aplicada aos textos bíblicos, na maioria das vezes, está condicionada a esse fator, e é por isso que há tantas interpretações para uma mesma passagem; inclusive, acontece até mesmo o caso de serem contraditórias umas com as outras. Observa-se que, para certos exegetas, a narrativa do autor bíblico pouco importa, pois o que se torna mais importante para eles é que o seu entendimento, do que está escrito, seja a verdade. Essa é a outra face dessas interpretações.
Vemos tantos líderes religiosos afirmarem sobre a existência do inferno que, considerando a hipótese, nos perguntamos: quando foi que Deus criou o inferno?
No livro Gênesis, encontramos Deus criando os “céus e a terra”. Mas, qual a razão de não ter também criado o inferno neste momento? Céus, segundo se acreditava, era a morada de Deus.
A primeira vez que a palavra inferno aparece na Bíblia Católica é no Sl 41,9, e significava o lugar para onde iriam todos os mortos, tanto os bons quanto os maus. Não é o conceito que temos hoje dessa palavra. Foi modificado após a influência cultural dos persas, passando a ser um lugar só para os maus. Na Bíblia Protestante, curiosamente, aparece em maior número de vezes. Está aí a razão de se falar tanto nele nesse meio.
Frequentemente encontramos algumas pessoas que, não suportando um pensamento religioso contrário ao seu, dizem que todos os outros irão, “de cabeça para baixo”, para o inferno.
Sem querer, pegamo-nos pensando sobre isso, quando nos ocorreu o seguinte: e se perguntasse a elas qual é o caminho para o inferno, será que teriam alguma resposta para dar-nos? Ou será que estariam mandando alguém para um lugar onde conhecem bem, uma vez que é muito comum recomendarmos aos outros aquilo que provamos ser bom, não é mesmo?
E achamos muito interessante que, quando nos mandam para o inferno sempre dizem: “vá para o meio do inferno”. Imaginamos que a essa altura o meio do inferno deve estar tão cheio que não cabe mais ninguém, assim deveriam nos mandar é para sua extremidade que deve estar completamente vazia e não para o meio onde não cabe nem mais uma sombra.
Não há como admitir que a Suprema Bondade possa ter um lugar para manter, por toda a eternidade, os que erram. Qual o sentido disso, se não é dada nenhuma oportunidade aos que erraram de se redimirem de seus erros? Seria a justiça humana mais perfeita que a Divina, já que, pela legislação humana, o legislador teve a preocupação de proporcionar ao indivíduo, que cometeu algum crime, a oportunidade de, após pagar por ele, se reintegrar à sociedade, de onde foi excluído por um determinado tempo?
Já dissemos, e sentimos que devemos sempre repetir, que o grande erro dos teólogos do passado, e dos atuais que os seguem sem refletir sobre isso, foi admitir que um ser infinito possa ser ofendido por um ser finito e que por isso vá manter infinitamente em cativeiro o ofensor. Vemos que na verdade essa maneira de pensar está sendo providencial para algumas correntes religiosas, pois é um meio de encabrestar seus adeptos, de modo a fazer com eles o que bem entendem. Claro fica, quando percebemos que grande parte delas só se preocupam em receber o dízimo dos fiéis, como se ele fosse a única maneira de nos livrarmos do inferno, é essa ideia que querem manter a qualquer custo. Pagando o dízimo estaríamos pois comprando a chave da porta do céu.
A maioria delas fala mais em Satanás que no próprio Deus, dando a esse personagem, criado pela imaginação humana, tanto ou mais poder que o próprio Criador do Universo. Temos, então, uma criatura sendo tão poderosa quanto o seu Criador. Isso é um absurdo, não concordamos com esse tipo de pensamento, já que isso seria rebaixar o Supremo Criador a uma condição de inferioridade.
É chegado o tempo de mudanças, e muitas delas virão pela própria força do progresso do ser humano, que num futuro, talvez nem muito distante, não aceitará mais nada sem o necessário questionamento. Quando Jesus disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, estava nos dizendo para buscar a verdade. Ora, somente encontraremos a verdade com muita pesquisa, muito estudo e o questionamento é peça fundamental neste processo de aprendizado. A verdade sobressairá, não importa se tentam abafá-la com dogmas, interpretações de conveniência ou falsos raciocínios, pois ela é como um olho de uma nascente d’água, por mais que tentemos tampá-lo, ele sempre surge mais à frente.
Timóteo disse: “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem a conhecer perfeitamente a verdade” (1Tm 2,4). Eu pergunto: quem poderá ir contra a vontade de Deus?
Pense nisso.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Ago/2002.
Por Gil Restani de Andrade
Os espíritas brasileiros ufanamo-nos de poder contar com obras literário-mediúnicas de inestimável valor, sendo de citar-se, primeiramente, como é óbvio, a do médium Chico Xavier, que ultrapassaram a expressiva marca dos 400 títulos. Destacam-se, ainda, as do tribuno Divaldo Pereira Franco, de Yvonne do Amaral Pereira, de J. Raul Teixeira, de João Nunes Maia e de Zilda Gama, entre outros.
Chico Xavier faleceu aos 92 anos de idade, tendo inteirados nada menos que 75 anos de dedicação irrestrita à Causa Espírita.
É o mais conhecido dos autores brasileiros no exterior, segundo um diplomata estrangeiro, que adicionou: “Equivale a uns vinte Jorge Amado”, o famoso romancista baiano. (Coluna do jornalista Zózimo, no “Jornal do Brasil” – Rio).
Assim, Chico Xavier constituiu-se, inequivocamente, no maior dos escritores brasileiros vivos, conquanto nenhum dos escritos consignados como de sua autoria seja, efetivamente seu, como, de resto, o próprio não se cansou de afirmar.
Em alguns jornais de circulação diária existem os “Cadernos Literários”, onde são comentados e analisados: obras, autores, gêneros, estilos, formas, etc., bem como levantamentos estatísticos dos livros mais vendidos, em períodos determinados: na semana, na quinzena, no mês, etc.
Num desses cadernos, integrante de jornal de ampla circulação nacional, há algum tempo, alguém fez menção ao crescimento, à importância e aos recursos financeiros envolvidos no que cognominou de “Sub-Leitura”. Para nosso espanto, a tal “Sub-Leitura” do cronista nada mais era do que a bibliografia espírita, colocada ao lado da esotérica, ocultista, teosófica ou que, de alguma forma, aborde a possibilidade de vida após a morte ou da interveniência de seres de outras dimensões – outros Planos – na vida humana.
É de ressaltar-se que as obras “New Age” de Shirley MacLaine, as de Marion Bradley, Paulo Coelho, José Benitez ou Taylor Caldwell, muito embora, em seu conteúdo, abordem explicitamente a temática atrás mencionada, não são consideradas integrantes da sub-leitura. Em sua ficha catalográfica lê-se:”Realismo Fantástico”. Como tais obras figuram ou figuraram no “placar das mais vendidas”, não cabem, evidentemente, na classificação de sub-leitura, mesmo porque uma tal categorização poderia desagradar a poderosos livreiros e a grandes interesses.
Valendo-nos do jargão empregado pelo analista do tal caderno literário, diríamos que tais livros poderiam, muito bem, ser enquadrados como “PARALEITURA“.
Certas considerações foram tecidas, pelo cronista, através do jornal, quanto à “subleitura”. Tão equivocadas foram, contudo, no que tange aos livros espíritas, que sentimo-nos impelidos, de modo incoercível a fazer certas corrigendas e prestar certas informações para o neologista:
1. Desconhecemos haja, em língua portuguesa, obra romanceada com edição superior à do livro “Nosso Lar”, do Espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier. Já foram extraídas mais de 70 edições da obra, tendo sido impressos, desde seu lançamento, ocorrido em 1944, mais de 1.500.000 exemplares;
2. Fazendo-se uma projeção de dados estatísticos da Federação Espírita Brasileira, somente a chamada “Série André Luiz”, composta de dezesseis volumes, achar-se-á bem próxima da marca de 10 milhões de livros publicados, em futuro muito próximo;
3. Levando-se em consideração levantamentos procedidos pelo Departamento Editorial da FEB – Federação Espírita Brasileira, os livros publicados pela Instituição, procedentes da psicografia de Francisco Cândido Xavier, suplantarão, muito breve, os 20 milhões de exemplares;
Há de reconhecer-se serem números expressivos, para uma simples parcela da “Sub Leitura Espírita”, que já superou, em muito, a marca dos 3.000 títulos em circulação, no mercado livreiro nacional.
Mais: Em esmagadora maioria, os direitos autorais dessas obras são totalmente doados a Entidades e Instituições espíritas de beneficência ou de assistência social, não gerando qualquer renda ou capital para seus autores.
O Espiritismo prima por propagar seus postulados através das letras, daí existirem, seguramente, mais de trinta editoras exclusivamente dedicadas ao livro espírita, sendo de mencionar-se, ainda, os quase trezentos jornais, revistas, boletins e informativos, de tiragens variadas, desde os 500 exemplares trimestrais até os 25.000 mensais, todos abordando a literatura espírita, de uma ou de outra maneira.
Boa parte dessas publicações é distribuída de forma gratuita, conquanto elaborada com dificuldade e com sacrifícios pessoais, sempre, porém, contando com a dedicação e o amor de seus empreendedores.
Toda essa Literatura e não “Sub-Leitura”, como jocosamente a capitulou o nobre articulista, por surpreendente que possa parecer, aborda, exclusivamente, temas que exaltam os bons costumes, a elevação de valores morais, a filantropia, a benemerência, a caridade material e espiritual e o sacrifício em favor do bem coletivo.
Inexistem, nela, os enredos maliciosos, de estímulo à violência ou de exploração da sensualidade, ou ainda os que tendam à falaciosa tese de que: “A vida é para ser aproveitada, na busca do gozo e do prazer”; que, para tanto, “é preciso ser-se esperto e levar vantagem em tudo”, suplantando, dolosa ou dolorosamente, a multidão ignara, e, quase invariavelmente, estulta ou ignóbil.
Aí está o motivo da grandiosidade da literatura espírita, que tanta surpresa causou ao analista do caderno literário, levando-o à “blague” infortunada. Por isso o constante evolver dessa literatura, conquanto os desentendidos. Diante, pois, do desgracioso neologismo “Sub-Leitura” e em face das considerações aqui formuladas, entendemos que sua concepção somente pode ter tido origem no cérebro de um “Sub-Crítico”.