12/02/2024
“Não é possível convencer um fanático de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar.” (Carl Sagan)
Achávamos que a expressão “entregar a rapadura” era bem coisa de mineiro, mas surpresos descobrimos que ela também é utilizada em vários estados brasileiros; é mais particularmente popular nos do Nordeste, que, dentre outros significados, tem “revelar algo de forma não intencional” (1), que é o que mais se enquadra nesse caso.
Resumo: O Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE) completa 160 anos em 2024. Aobra se dedica ao estudo, desenvolvimento e prática da moral cristã. Junto com a obra O Céu e o Inferno, ela representa o aspecto moral do Espiritismo. Curiosamente, o item II da Introdução do ESE apresenta uma detalhada explicação sobre a autoridade científica (e não moral) da Doutrina Espírita. Nesse item, Kardec apresenta os dois critérios de análise de revelações mediúnicas: i) o uso da razão e ii) o chamado método do Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE). Nesse texto, ele discute a importância do caráter universal do ensino dos Espíritos em contraponto a revelações individuais, bem como as vantagens de os Espíritos poderem eles mesmos fazer a divulgação da Doutrina em todos os lugares do globo. Ele conclui o texto mostrando a segurança que o Espiritismo adquire contra revelações que pudessem deturpá-lo, se os dois critérios acima de análise de mensagens forem seguidos rigorosamente. Uma questão, porém, que até o momento nunca foi levantada ou discutida é sobre as razões pelas quais Kardec teria mantido essa explicação em uma obra destinada ao aspecto moral/cristão do espiritismo. Neste artigo, construo uma hipótese baseada no conteúdo de três mensagens mediúnicas recebidas por Kardec à época em que ele preparava o ESE. A proposta deste estudo não é fechar a questão, mas motivar a pesquisa por documentos históricos que possam elucidá-la ainda mais.
Palavras-Chave: O Evangelho Segundo o Espiritismo; Autoridade da Doutrina Espírita; a aliança entre ciência e religião.
Abstract: The Gospel According to Spiritism (GOS) celebrates its 160th anniversary in 2024. It is dedicated to the study, development and practice of Christian morality and represents the moral aspect of Spiritism, along with The Heaven and Hell. In the introduction to the GOS, item II provides a detailed explanation of the scientific (not moral) authority of the Spiritist Doctrine. Kardec presents two criteria for analyzing mediumistic revelations: the use of reason and the method of the Universal Control of the Teaching of Spirits (UCTS). This text discusses the importance of the universal character of the Spirits’ teaching as opposed to individual revelations, as well as the advantages of the Spirits themselves being able to spread the Doctrine worldwide. Kardec concludes the text by demonstrating how Spiritism can be safeguarded against potentially distorting revelations, provided that the two aforementioned criteria for analyzing messages are strictly adhered to. However, one question that has not been discussed thus far is raised here: why did Kardec maintain this explanation in a work aimed at the moral/Christian aspect of Spiritism? In this paper, I construct a hypothesis to answer this question based on the content of three mediumistic messages received by Kardec at the time he was preparing the GOS. The aim of this study is to prompt research into historical documents that can shed new lights on the question at hand.
Keywords: The Gospel According to Spiritism; the authority of the Spiritist Doctrine; The alliance of science and religion.
© 2024 – Autor(es)
A. F. da Fonseca, Jornal de Estudos Espíritas 12, 010202 (2024), DOI: https://doi.org/10.22568/jee.v12.artn.010202.
Ela está presente inclusive na Bíblia como palingenesia
O cristianismo está muito preocupado com algumas de suas doutrinas antirracionais e polêmicas, principalmente, a Igreja. Por isso, ele tem perdido muitos fiéis, notadamente nos países europeus do Primeiro Mundo.
Os teólogos do alvorecer do cristianismo eram santos e agiram com boa-fé, mas eram imaturos ou pouco evoluídos nas suas ideias teológicas, inclusive, influenciadas pela mitologia.
E vamos ao assunto desta coluna de hoje: a já quase total universalidade da doutrina da reencarnação. Praticamente, são apenas os cristãos que, oficialmente, não a aceitam, dizendo que a Bíblia fala em ressurreição e não em reencarnação, o que não é verdade.
A Bíblia não fala na palavra reencarnação, porque ela ainda não existia. Quando a Bíblia foi escrita, mas usa seu sinônimo “palingenesia” que tem a mesma grafia em português. Os tradutores bíblicos estão traduzindo, erradamente, alguns textos espíritas dela. Exemplo: palingenesia traduzida por “regeneração” (Pastorino, este colunista e outros fazem a tradução bíblica correta de palingenesia por reencarnação. Ela tem a mesma grafia em português, recomendo, pois, aos meus queridos leitores verem o significado dessa palavra “palingenesia” em dicionários de português e em grego para quem conhece a língua de Platão).
E agora vamos ver que, apesar da história das igrejas cristãs estar impregnada de ideias contrárias à reencarnação, sempre houve também renomadas personagens sábias, teológicas e bíblicas que a defenderam. E ela é entendida, também, como sendo a própria ressurreição (Mateus 14: 12), a qual é sempre do espírito ou corpo espiritual e não carnal (1 Coríntios 15: 44) e que ressuscita na dimensão espiritual ou em um outro corpo novo, quando se dá a reencarnação.
Pelo espaço limitado da coluna, não vamos citar as fontes: Orígines, para Irineu o maior cristão não apóstolo; Santo Agostinho que, entre outras afirmações, disse: “Não vivi eu em outro corpo, antes de entrar no de minha mãe?”; São Gregório de Nissa: “Há necessidade de natureza para a alma imortal ser curada e purificada, e se ela não o for na vida terrestre, a cura se operará através de vidas futuras e subsequentes”; São Jerônimo: “A transmigração das almas é ensinada secretamente a poucos, desde os mais remotos tempos, como verdade não divulgável.”; Nietzche: “Minha doutrina é: Vive, para que teu desejo possa viver novamente. Esse é o teu dever, pois dessa forma, teu desejo viverá novamente”.
Uma grande massa, cada vez maior, de leigos católicos, ortodoxos, protestantes e evangélicos crê, hoje, na reencarnação. E, assim, podemos dizer, como diz o título desta coluna, que, de fato, a quase totalidade da humanidade, atualmente, crê na reencarnação.