É de conhecimento entre nós, espíritas, o incessante intercâmbio entre encarnados e desencarnados.
Embora habitem dimensões diferentes, “vivos” e “mortos” continuam ligados por laços invisíveis, mas não menos poderosos, por meio dos quais se põem em comunicação. Tal comunicação, embora na maioria das vezes imperceptível aos sentidos mais grosseiros, sempre se deu, desde o surgimento da raça humana no planeta.
Através da mediunidade, faculdade inerente ao homem, os habitantes desses dois mundos se puseram em contato de maneira mais direta, podendo revelar, mesmo que timidamente, as realidades do além-túmulo.
Durante milênios, contudo, a fenomenologia mediúnica padeceu com a ideia do maravilhoso e do sobrenatural, eivada de misticismos e superstições, oriundos do profundo atraso intelecto-moral da humanidade. Os abusos cometidos fizeram com que legisladores locais optassem, inclusive, por proibir o intercâmbio, embora reconhecessem a veracidade do fenômeno. Homens e mulheres, ao tempo de Moisés, por exemplo, costumavam recorrer aos espíritos por meio das chamadas pitonisas, buscando conselhos sobre os mais ínfimos problemas cotidianos. Desse modo, o austero líder é forçado a proibir a comunicação com os espíritos em sua época. Mesmo antes disso, os gregos, como também os romanos, os egípcios, os hindus, os caldeus, os chineses e os persas, reconheciam igualmente a possibilidade de contato com os desencarnados.
Mais tarde, ainda devido à ignorância e ao apego a poderes temporais, as religiões dogmáticas cristãs lançaram seus anátemas à comunicação com os espíritos, agora vistos como seres demoníacos e voltados unicamente ao mal. Segundo eles, os ditos “mortos” não teriam condições de se porem em contato conosco por já habitarem o céu ou o inferno, suas derradeiras e definitivas moradas.
A espiritualidade superior, contudo, aguardou o momento propício, de maior amadurecimento espiritual, para trazer ao mundo as luzes da Doutrina Espírita. Através do emérito professor Rivail – Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) – pesquisador arguto com uma longa romagem de aprendizados em existências pregressas (o mundo espiritual, assim como os espíritos), passou a ser melhor compreendido, afastando definitivamente de cena as concepções errôneas e/ou extremadas.
Os desencarnados passaram a não mais serem vistos como anjos celestiais ou seres pérfidos eternamente devotados ao mal, mas apenas como indivíduos que não mais trajavam a roupagem física e que exibiam virtudes e fraquezas, geralmente as mesmas que possuíam enquanto na esfera terrena.
Sob o lema “Fora da caridade não há salvação”, a Doutrina Espírita nos convoca não só ao diálogo com os nossos irmãos desencarnados, mas também à oportunidade que temos de aprender com os que se encontram mais adiantados. Aliás, vai além: não excomunga nem repele os que se encontram ainda atrasados na senda do progresso – abraça-os e acolhe-os, como irmãos nossos, de modo a oferecer-lhes o esclarecimento e o apoio de que tanto necessitam para se desembaraçarem das paixões que os sufocam e os fazem sofrer.
Apontando a obsessão como uma chaga que aflige boa parte da população encarnada, tal qual uma epidemia, como afirmou Léon Denis (1846-1927), o Espiritismo vem trazer ao mundo a sua contribuição de luz, em que o amor transpassa a barreira entre dois mundos.
Nesse contexto, mais uma vez, o confrade Paulo Neto nos traz sua preciosa contribuição enquanto escritor e pesquisador espiritista, na medida em que analisa e ressalta a importância das reuniões mediúnicas de desobsessão, poderosas ferramentas de acolhimento e enxugamento de lágrimas. Por meio de um convite ao perdão e à tolerância fraterna entre todos os envolvidos, antigos algozes podem, nesses encontros benditos, ser esclarecidos pelas luzes do Evangelho e da magna Doutrina, num aceno à paz, ao entendimento e ao amor, únicos capazes de romper as barreiras do ódio e da vingança.
Finalmente, convém lembrar que a obsessão se dá pela afinidade entre os envolvidos, em que o elemento encarnado deva fazer, da mesma forma, todo o esforço de aperfeiçoamento íntimo necessário, sem o qual qualquer iniciativa, por melhor que se apresente, não passará de mera perda de tempo, tal qual advertiu Jesus: “Vá e não peques mais”. (João 8:11)
A presente obra de Paulo Neto, portanto, merece de nós toda a consideração e estudo, consubstanciada que está nas preciosas lições do Espiritismo, conforme nos foi legado por Allan Kardec e a augusta plêiade de espíritos dirigida pelo Espírito da Verdade.