A dívida

Numa pequena cidade do interior, vivia José Maria da Silva, mais conhecido como Zé Maria. Era um costume seu andar pelas redondezas, visto que apreciava as coisas do campo. Todo fim de tarde lá ia para as suas “voltinhas”.

Certo dia numa propriedade não muito longe da cidade encontrou uma pequena esmeralda. E, pelas características do terreno, era bem provável que estivesse diante de uma mina. Não disse a ninguém da sua descoberta,  principalmente porque sabia que o dono daquela propriedade vinha, há bastante tempo, querendo vendê-la. Entretanto, não encontrava comprador, uma vez que a localização e a água não favoreciam qualquer tipo de negócio.

Zé Maria, depois de muito pensar, decidiu tomar um empréstimo bancário para comprar a propriedade. E logo foi tomar as providências para levar adiante seu projeto.

Não encontrou nenhuma dificuldade em conseguir o empréstimo, já que era muito conhecido e de uma honestidade que causaria inveja a muitos políticos. Como não queria ficar em dívida com o banco, por muito tempo, combinou um pequeno prazo, já que, com as pedras que iria conseguir pagaria com folga o empréstimo de valor elevado.

Dinheiro na mão, foi para casa. Só que no caminho encontrou alguns “amigos” que o viram sair do banco. Presumindo que deveria ter algum dinheiro, convidaram-no para participar de um jogo de baralho. E como, de vez em quando, ele ia ao bar em que as pessoas jogavam, acabou aceitando o convite.

Zé Maria, ganhava o jogo, mal se dando conta que estavam lhe preparando uma armadilha. E, assim, na última rodada da noite, desafiaram-no a apostar tudo o que tinha. Pobre coitado! Caiu como um patinho. Saiu de lá sem um vintém, perdera até o dinheiro do empréstimo.

Passados alguns dias, recebeu um aviso bancário dizendo que o seu empréstimo já havia vencido e que teria 24 horas para quitar o débito contraído junto ao Banco. Como não tinha como correr, foi ao Banco tentar negociar a sua dívida. Ao se aproximar do gerente, este lhe indicou a cadeira para sentar-se, e disse-lhe: Zé Maria, seu empréstimo venceu, e nós queremos receber toda a dívida, passando o valor a ele. Olhou o tamanho da dívida e como não tinha dinheiro para pagar fez uma proposta ao gerente de pagar a dívida em suaves prestações, pois ainda lhe restava o emprego. E, embora seu salário fosse pouco, iria fazer o possível para quitar a dívida no menor tempo possível, até mesmo porque era novo, e tinha muito tempo de vida pela frente, para poder pagar a dívida.

Entretanto, esse Banco por recomendação expressa do proprietário, não dava a menor chance aos devedores. Era só o pagamento imediato. Caso contrário, o rigor da Lei, que previa o encarceramento até o pagamento da dívida. E assim, não deu outra. Nosso amigo Zé Maria foi trancafiado na cadeia pública do lugar. Agora sim, aqui na cadeia não há a menor possibilidade de eu poder pagar a dívida, devendo eu passar o resto da minha vida preso, pensou amargurado.

Vamos analisar a situação do Zé Maria. Não entendemos a atitude do proprietário do Banco, pois achamos que deveria ser mais importante para o mesmo receber o valor do débito. E, assim, o razoável era aceitar a proposta do cliente que queria pagar a dívida em parcelas, pelo que, após certo tempo, teria todo o dinheiro emprestado de volta.

A legislação era absurda, pois como uma pessoa que vivia do seu salário, e sendo presa, iria conseguir pagar a dívida? Iria, isto sim, continuar com o débito a vida toda. Será que receber a dívida não era o mais importante para este Banco?

Bom, agora vamos fazer umas modificações nessa história. Substituamos o Zé Maria por nós, o empréstimo, por nossa dívida perante o Criador; o jogo, as tentações da vida; os “amigos”, os que querem de toda a forma atrasar nossa evolução; a Lei, pela Lei Divina; a cadeia, pelo inferno, e, finalmente, o proprietário, por Deus. E, assim, o que já seria um absurdo perante um senso de justiça humano, por que o não seria, também, em relação à Justiça Divina?

Entretanto, como “Deus quer que todos nós sejamos salvos” (1 Tm 2,4) ao invés de nos mandar para a prisão (inferno), onde nunca conseguiríamos quitar nossa dívida para com Ele, nos dá a oportunidade de pagá-la, à prestação, como? Simplesmente, dizendo-nos: “Importavos nascer outra vez” (Jo 3,7), ou seja, dando-nos outras vidas para que isso aconteça.

Pense nisso!
Fev/2002.

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Paulo Neto
É palestrante e articulista da Mídia Escrita Espírita e não Espírita, com vários artigos publicados em um grande número de jornais e revistas, muitos dos quais poderão ser encontrados na Internet e principalmente neste site.
Esta reflexão não necessariamente representa a opinião do GAE, e é de responsabilidade do expositor.

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