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A graça desgraça

A Graça de que fala o apóstolo Paulo é uma bendita dádiva de Deus para todos nós. Mas, mal interpretada que foi pelos teólogos, ela tornou-se uma desgraça para o cristianismo, pois a ela se devem as causas principais das desarmonias cristãs. É que os teólogos exageraram-na de tal modo, que eles ficaram cegos para o ensino do Evangelho do Mestre, ensino esse que constitui um fator importante de nossa salvação, à medida que ele é vivenciado por nós. Aliás, sem isso, poderia Jesus vir trezentas vezes ao nosso planeta trazer-nos os mesmos Evangelhos, e de nada valeriam eles para nós.

A graça é de graça e é para todos, pois Deus não faz acepção de pessoas (Atos 10,34; Romanos 2,11; Efésios 6,9; e Deuteronômio 10,17). Ela é, pois, como se fosse o ar que respiramos, que é também para todos nós. E Paulo até disse que onde há mais pecados, há também mais graças (Romanos 5,20). Mas os teólogos fizeram da graça um imbróglio, ensinando que só ela nos salva, e descartando totalmente para isso o valor de nossos méritos.

Seria isso para valorizar a profissão ritualística dos líderes religiosos? Ora, se todos ganham a graça, ninguém nunca poderia deixar de se salvar por falta dela, mas por falta de outra coisa. E tudo indica que essa outra coisa que nos faltaria só poderia ser o nosso mérito ou aquilo que nos cabe fazer. Aliás, se não fosse assim, para que Jesus teria vindo ao nosso mundo trazer-nos o seu Evangelho? Seria só para inglês ver?

É verdade que Paulo dá a entender que nós teremos sucesso espiritual, não pelas obras da lei, pois a graça já não seria graça. Mas não vemos por que a graça se tornaria nula, só porque buscamos ter méritos. Também, certamente, Paulo não se referia às obras de caridade, mas às da lei mosaica, tais como a exigência do dízimo e do assassinato dos filhos rebeldes e dos adúlteros pegos em flagrante (Deuteronômio 21,21; e 22,22). Isso porque, em outra parte, ele mesmo ensina que sem as obras de caridade, não estamos com nada (1 Coríntios 13,3). Ademais, São Tiago pregou também que a fé sem obras é morta (São Tiago 2,26).

E para os que ainda insistem em que não depende de nós a nossa salvação, transformando, assim, a bendita doutrina da graça em desgraça, aqui vai o ensino do Mestre, cuja palavra vale mais que a de São Paulo: “A cada um será dado segundo suas obras” (Mateus 16,27).

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.