Resumo: A ideia ou crença na imortalidade do espírito individual é causa de grande constrangimento e controvérsia no meio acadêmico. Enquanto muitos entendem que o tema mereceria um veto da comunidade científica, por constituir matéria de fé religiosa, outros propõem pesquisas empíricas ou argumentos filosóficos a seu respeito. Entendendo que parte considerável da dificuldade do campo reside na incompreensão a respeito de seu verdadeiro lugar conceitual, apontamos para o fato de que a discussão centrada nos modelos mais epistemológicos baseados em evidências tem uma desvantagem intrínseca em relação a modelos mais metafísicos e metafilosóficos, os quais estabelecem as condições de possibilidade de perspectivas espiritualistas ou materialistas. Enfatizando o balizamento lançado por Kant e pelos trabalhos iniciais de Fichte e Schelling, defendemos a necessidade de recondução de todo e qualquer problema filosófico ao problema das definições fundamentais, e que esse modo de proceder é decisivamente contrário ao materialismo. Com isto se pretende evidenciar que o projeto filosófico é sempre essencialmente um projeto transcendental, que pergunta sobre a pertinência e condição de possibilidade das premissas iniciais, e que a discussão sobre a independência ontológica da consciência não apenas tem a ganhar, como depende dessa fundamentação.
Palavras-Chave: Fundamentação; Imortalidade do Espírito; Argumentos; Materialismo; Metafísica.
Abstract: The idea or belief in the immortality of the individual spirit is the source of great embarrassment and controversy in the academic environment. While many understand that such a theme deserves a veto from scientific community, consisting exclusively in a matter of faith, others propose empirical research and philosophical arguments on it. Considering that a significant part of the difficulties in the field is due to the incomprehension about its conceptual place, we stress the fact that the discussion centered on more epistemological models based on evidence is in disadvantage to the more metaphysical and metaphylosophical models, which establish the conditions of possibility of both spiritualistic and materialistic perspectives. Emphasizing the Kantian guidelines and the initial works from Fichte and Schelling, we advocate the necessity of retracing all philosophical problems back to the fundamental definitions, and that this way of proceeding is a decisive blow against materialism. Thus, I intend to make evident that all philosophical projects are essentially transcendental projects, which question the validity and the conditions of possibility of the given premises, and that the discussion on the ontological independence of consciousness not only profits from but depends on this grounding.
Keywords: Grounding; Immortality of the Spirit; Arguments; Materialism; Metaphysics.
© 2024 – Autor(es)
H. S. Coelho, Jornal de Estudos Espíritas 12, 010302 (2024),
DOI: https://doi.org/10.22568/jee.v12.artn.010302.