Carlos Antônio Fragoso Guimarães
Um pai da Igreja que acreditava na Reencarnação
Um dos maiores lumiares do início do cristianismo, “O maior erudito da Igreja antiga”, segundo J. Quasten – pertencente à Igreja Grega e do Oriente, dica-se de passagem, enquanto a de Roma ainda não tinha a supremacia que viria a ter em virtude de manipulações políticas – Orígenes nos encanta por sua apurada visão espiritual e sua maneira especialmente lúcida de abordar a mensagem do Cristo. Nascido por volta de 185 de nossa era, em Alexandria – onde ficava a famosa biblioteca, marco único na história intelectual humana, e que foi destruída pela ignorância e sede de poder dos romanos e, depois, por pseudo-cristã os ensandecidos e fanáticos -, desde cedo teve contato com a doutrina de Cristo, especialmente com seu pai, Leonídio, que foi martirizado em testemunho de sua fé. Com isso, a família de Orígenes passou a ser estigmatizada, tendo sido sequestrado todo o patrimônio que lhe pertencia. Para sobreviver, o jovem e brilhante Orígenes passou a lecionar para ganhar seu sustento. Mente curiosa e aberta, Orígenes dedicava-se ao estudo e a discussão da filosofia, notadamente Platão e os estoicos. Orígenes bebeu da mesma formação intelectual que viria a ter Plotino, na escola de Amônio Sacas e, com certeza, as doutrinas ditas orientais não lhe eram estranhas, e muito menos a ênfase num conhecimento psíquico direto com o transcendente que era típica da escola de Amônio, fundador do neoplatonismo e, também, um simpatizante (pelo menos em parte) do cristianismo. Por isso, com absoluta certeza, o conhecimento na doutrina Paligenética (da Reencarnação), tão cara a Platão e a Sócrates, lhe era muito familiar em sua fase de formação, e posteriormente ele viria a divulgá-la abertamente – este foi um dos motivos pelos quais foi perseguido pela vertente católico romana, e por isso, temos hoje poucos de seus escritos, mesmo assim, devidamente “maquilados” (c.f. Reale & Antiseri, 1990, volume I, página 413; e Fadiman & Frager em Teorias da Personalidade, 1986, ed. Harbra, páginas 175-176).