Anjos e Demônios

“Daimonion”e“daimon”, palavras gregas correspondentes hoje ao ariman (mal), oposto de Mazda (Deus), de Zoroastro. Inicialmente, elas designavam alma e guia. Sócrates era protegido por seu demônio (anjo da guarda). (Grego“diabolos”) e satanás (Hebraico“satã) significam adversários, coisas do nosso ego, não sendo, pois, espíritos. Jesus chamou Pedro de satanás, e Judas de diabo.

Pedro, porque não queria a sua morte, e Judas, justamente porque ajudou a tramá-la. Lúcifer (Grego “eosforos”, porta-luz) também não é espírito. E foi traduzido por São Jerônimo para o Latim da Vulgata por “lucis” (de luz) e “ferre” (transporta), “porta-luz.

Mas se trata de metáfora, e tem a conotação de nossa inteligência e também de aurora. Assim, na verdade, Cristo é que é o nosso Lúcifer, o nosso Porta-Luz! Dão também a Lúcifer e ao diabo o nome de serpente, que simboliza, igualmente, a inteligência. “Sede mansos como as pombas, mas prudentes (inteligentes) como as serpentes”. O que tentou Eva foi, pois, a sua inteligência, e não uma serpente.

E Jesus tirou das pessoas demônios, mas nunca tirou satanás, diabo, satã, lúcifer e serpente de ninguém! A Árvore do “Conhecimento do Bem e do Mal” simboliza também a inteligência. Só que o conhecimento é causa e não conseqüência do pecado. A palavra Adão vem do Sânscrito: “adi” (primeiro) e “Ahan” (ego), ou seja, o homem do primeiro ego, depois que adquiriu sua inteligência. E é o ego que gerou o orgulho (desobediência) do primeiro casal bíblico.

Até os autores bíblicos fizeram uma confusão dos diabos com a história dos diabos. Confundiram a chamada queda dos anjos com a do homem. Anjo não peca! E Jesus disse que o diabo é homicida e pai da mentira, desde o início. Seja espírito ou o nosso ego, deve haver subida (evolução) e não queda! “Deus cria a luz e as trevas” (Isaias 45, 7).

“Quando um ímpio maldiz seu adversário (diabo), é a si mesmo que maldiz.” (Eclesiástico ou Sirácida 21, 27). E a não é só bíblica. Platão concluiu que o mundo é uma mistura (meixis)! Dante e Milton quase fizeram dos demônios deuses do mal. “Todas as coisas procedem de Deus” (Stº Agostinho).

“Sine diabolo nullus Dominus” (“Sem o diabo, não existe Deus”, autor ignorado). “Deus teria usado até mesmo o diabo para a criação do supremo bem” (Stº Tomás de Aquino). “Abraxas gerou a verdade e a mentira” (Jung, “Sete Sermões aos Mortos”). “O mal é um preço a ser pago por um cosmo não-estático” ( Stº Tomás de Aquino). “O diabo é a personificação do mal” (Kant).

E a Igreja Ortodoxa Oriental, Orígenes, Teilhard de Chardin e o escritor italiano Giovanni Papini crêem que os demônios converter-se-ão a Deus. E como disse Helena Blavastky, as trevas, quanto maiores, mais brilha a luz! E por que os demônios, que são espíritos humanos atrasados, não evoluiriam, se Jesus foi pregar para eles no inferno, e se só Deus, que é amor, teria condições de mantê-los na eternidade do erro?

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.