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Antes era nascer ‘de novo’, por que hoje é ‘nascer do alto’?

O espiritismo codificado por Kardec é, hoje, a doutrina que mais tem incomodado os intérpretes da Bíblia, pois ela se baseia em interpretações bíblicas racionais, evitando tanto as literais como as alegóricas forçadas, feitas para darem cobertura a doutrinas criadas pelos teólogos e apoiadas pelos imperadores romanos, as quais até receberam influências mitológicas e foram impostas pela força e não a lógica e o bom senso.

Mais tarde, na Idade Média, morriam nas fogueiras da Inquisição os que negassem publicamente uma dessas ideias da teologia proclamada a partir, principalmente, do Concílio Ecumênico de Niceia (325). E a Inquisição não era só dos tribunais eclesiásticos da Igreja, havia também a dos protestantes. Um exemplo disso foi a morte lenta na fogueira do médico, advogado e teólogo espanhol Miguel Servet, por determinação de João Calvino, porque Servet discordava do dogma trinitário em sua obra “De Trinitatis Erroribus” (“Erros da Trindade”), “O Homem em Busca de Deus”, página 322, (Tradução da Nova Sociedade Tradutora Judaica, 1985).

De fato, é o Espiritismo que mais tem incomodado os teólogos e tradutores, pois ele segue a Bíblia, principalmente no seu Novo Testamento, e não os dogmas, que respeitamos, mas que são doutrinas polêmicas seguidas pela maioria das outras correntes cristãs. Aliás, nem todos os demais cristãos aceitam também todos os dogmas.

Certamente, muitos dos meus queridos leitores dessa coluna em O TEMPO dirão que o espiritismo é contra a Bíblia, porque prega a reencarnação e não aceita que Jesus seja outro Deus. Mas é Justamente o contrário, pois a reencarnação está sim na Bíblia. E a tese de que Jesus não é Deus está também nela, só não vendo essas verdades nela quem não as quer mesmo ver. É só estudarmos a Bíblia de modo profundo e sem as viseiras dogmáticas para constatarmos essas grandes verdades incontestáveis. Essa coluna e meus livros demonstram-nas à saciedade. O que as nega são justamente os dogmas que não têm o respaldo da Bíblia, principalmente nos evangelhos. E, exatamente porque os espíritas seguem os evangelhos, dizemos frequentemente que os espíritas é que são os verdadeiros evangélicos, enquanto que as demais correntes cristãs, que respeitamos, são mais é dogmáticas. E os dogmas, atualmente, são os maiores problemas do cristianismo, pois criam ateus!

E vamos ao título desta matéria. O adjunto adverbial temporal grego “anothen”, no texto evangélico (João 3: 3), durante cerca de dois mil anos, foi traduzido por ‘de novo’. “Se alguém não nascer ‘de novo’, não pode ver o reino de Deus” (João 3: 3). Mas porque, hoje, a crença na reencarnação tornou-se muito forte nos meios cristãos, e a citada passagem evangélica possuir um claro e indiscutível sentido da reencarnação, os teólogos e tradutores da Bíblia substituíram o citado texto por este: “Se alguém não nascer ‘do alto’, não pode ver o reino de Deus”.

Essa mudança constitui por si própria uma prova cabal de que a expressão original ‘nascer de novo’ fala mesmo da reencarnação, daí a mudança do texto feita pelos tradutores contrários a ela. Mas eles não foram felizes nessa mudança, pois “nascer do alto” significa também reencarnação, já que o espírito que nasce (reencarna) ‘de novo’ nasce também ‘do alto’, ou seja, do mundo espiritual!

 

José Reis Chaves
Agosto / 2016

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.