Jamais considerei os teólogos ignorantes e pouco inteligentes. É o contrário, tenho-os como muito inteligentes, pois eles até conseguem a proeza de convencerem muitas pessoas a acreditarem piamente em coisas em que eles próprios não acreditam.
Ao se referir aos sacerdotes judeus de sua época, o Mestre já aconselhava as pessoas a fazerem o que eles mandavam, mas que elas não os imitassem em suas obras (Mateus 23,3). Obviamente, nem todos os sacerdotes daquela época e de hoje são hipócritas, pois há os que, mesmo estando errados, são de boa fé.
Admiro as teses filosóficas de Kardec e de São Tomás de Aquino, quando este afirma que Deus é o único ser incontingente, e quando aquele define Deus como sendo a causa primária de todas as coisas. Ser incontingente é o que não tem causa ou não é causado. Para São Tomás todos os demais seres são contingentes, pois que são causados. E a causa primária de Kardec sobre Deus é também uma causa não causada, pois é a primeira ou a causa anterior a qualquer outra.
Costumo chamar Deus, o ser incontingente, a causa primária e também o Único e o Brâman dos orientais, de Deus absoluto, e de deuses relativos todos os seres contingentes, causados, gerados ou criados. Todos nós, pois, inclusive Jesus Cristo, somos deuses relativos: “Vós sois deuses” (Salmo 82,6; São João 10,34; e 1 Samuel 28,13).
Jesus Cristo, só por ser Filho de Deus, torna-se “ipso facto” um ser contingente e, portanto, um Deus relativo. Aliás, para São Paulo, Jesus Cristo é o primogênito das criaturas. Ora, Deus mesmo é criador e jamais criatura.
As idéias tomistas e kardecistas sobre Deus são compatíveis com uma teologia racional e à prova da crítica textual bíblica. Mas é óbvio que são incompatíveis com uma outra teologia, ou seja, a teologia antibíblica, profissional e que manipula as pessoas, a qual, infelizmente, tem muitos inocentes úteis por esse mundo afora!