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Consciência e Conveniência

Li não sei onde que os escritores do Oriente Médio abusam tanto do uso de metáforas que, quando eles querem dizer que o teto dum templo é branco como o leite, eles afirmam que o teto do templo é de leite! E a Bíblia sofreu grandemente essa influência, pois foi escrita também no Oriente Médio. E o próprio Jesus ensinava muitas coisas por parábolas.

E é tão verdade isso, que é sobejamente sabido que devemos ser muito cautelosos na interpretação da Bíblia. E São Paulo, ciente disso, recomendou-nos que não nos prendêssemos à letra bíblica que mata, mas ao espírito da letra.

Todavia, os teólogos, exegetas e hermeneutas sempre abusaram das mensagens metafóricas bíblicas, com o intuito de adaptarem-nas às novas doutrinas que eles mesmos iam criando. Aliás, não obedecendo àquela advertência paulina, eles têm interpretado literalmente muitos textos metafóricos.

E o resultado disso tudo salta aos nossos olhos, pois o Cristianismo criou doutrinas que nada têm a ver com a mensagem de amor, fraternidade e justiça do Evangelho do Nazareno. E essas doutrinas fazem do fiel um religioso cristão só de nome, frio e indiferente, quando não o arrastam, às vezes, ao materialismo. Isso levou Gandhi a dizer: “Eu aceito o Evangelho do Cristo, mas não aceito o Cristianismo dos cristãos”.

Para a Igreja Católica de hoje, todos vão se salvar, até os ateus. Mas uma parte de nossos irmãos evangélicos ainda diz que só a igreja deles salva, e que os outros religiosos já estão no inferno, mesmo antes de desencarnarem, como se Jesus não fosse o Salvador do mundo, mas apenas deles.

Que falta de humildade! E será que o querer e o poder deles e dos demônios são maiores do que os de Deus Todo-Poderoso que quer que todos se salvem? “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem!” Meu Deus! Como eles podem ignorar que é impossível um indivíduo ser cristão, se ele pensa que pode ser feliz, enquanto um seu semelhante é infeliz? Para Stº Tomás de Aquino o gozo dos que estão no céu aumenta, ao observarem eles o sofrimento dos condenados no inferno.

Será que os salvos são sádicos? Mas esse santo médium, ao escrever essa incongruência, foi certamente inspirado por um espírito atrasado. E é curioso que antes de desencarnar, ele disse: “Tudo que escrevi é palha!” Lembremo-nos de que o teólogo do passado, mais do que o de hoje, buscava, às vezes, mais a sua conveniência do que a sua consciência!

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.