Primeiramente, cabe-nos conhecer qual seria a realidade de Deus. Nas Escrituras Sagradas encontramos no AT: “(…) e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Já no NT temos: “Deus é espírito, e os que o adoram devem adorar em espírito e verdade”. Como sabemos que o homem foi criado “à imagem e semelhança” de Deus, poderemos concluir que: Deus sendo Espírito, e o homem sendo Sua imagem e semelhança, via de consequência, também somos espíritos.
Assim sendo, não há nenhum sentido em querermos valorizar tanto, como o fazemos, o nosso corpo físico em detrimento do que realmente somos, ou seja, espíritos imortais. Chegamos a ponto de achar que é com nosso corpo que iremos ressuscitar.
Não podemos mais sustentar tal conceito, pois na dimensão espiritual, para onde retornaremos um dia, não existe nenhuma compatibilidade entre o físico e o espiritual. Paulo, percebendo isso, instrui aos Coríntios: “A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem o que é destrutível herdar a indestrutibilidade”, além de ter afirmado em 1Cor 15,35-46 que o que ressuscita é o corpo espiritual, e não, o corpo da natureza (de carne, ossos e sangue), confirmando assim o que, também, disse Jesus: “O espírito é que dá vida; a carne de nada serve”. (Jo 6,63)
Infelizmente, por não entendermos o simbolismo da criação do homem constante da Bíblia, achando que Deus teria criado primeiro o corpo para depois lhe colocar o “sopro de vida”, não percebemos que Jesus, na verdade, reconhecia Sua natureza espiritual: “Pai em tuas mãos entrego meu espírito!” (Lc 23,46). Fato esse que ainda podemos comprovar quando o Espírito de Jesus não permite a Paulo e Timóteo seguirem para a Bitínia, conforme narrado em Atos 16,7. Jesus também era plenamente consciente de Sua existência, antes que o mundo fosse criado. Assim, podemos concluir que, como espíritos, somos também criados por Deus muito antes do nascimento do nosso corpo físico. Não podemos nos esquecer de que Jesus nos iguala a Ele, quando diz: “quem acredita em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas” (JO 14,12).
Talvez alguém diga que sempre ouviu falar que o que ressuscita é o corpo, a carne, sobre o que há uma frase muito conhecida: “Creio na ressurreição da carne”. Mas essa frase não é da Bíblia, mas, do credo rezado na hora da missa. Algumas traduções modernas dizem “ressurreição dos mortos”, o que é um grande avanço, pois deixa porta aberta para a ressurreição bíblica: do espírito, como vimos acima. E deixemos ainda que Jesus remate esse assunto: “Os que chegarem à ressurreição são como os anjos (espíritos) de Deus no céu” (Mt 22,30).
Por outro lado, se persistirmos no conceito de que Deus somente cria o espírito no momento da concepção, estaremos condicionando o Criador à sua criatura, visto que Deus somente poderia criar os espíritos, quando um casal humano viesse a conceber um novo ser. É um absurdo tal propósito. Deus a Inteligência Suprema, a causa primeira de todas as coisas, ficar à mercê de um ato do homem, para criar um espírito.
Pense nisso!
Julho/2001.