O rei Salomão, falando ao povo de Israel, disse-lhe: “Na verdade, edifiquei uma casa para tua morada; lugar para a tua eterna habitação” (1Rs 8,13); porém, não deixou de questionar: “Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei” (1Rs 8,27). Em sua sabedoria, Salomão teve a lucidez de duvidar que Deus “caberia” no Templo, tamanha a magnitude com que O considerava. Por nossa vez, não resistimos e, parafraseando Salomão, também questionamos: Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos um corpo físico edificado pelo homem.
Dois são os passos com os quais sustentam que Deus manifestou-se em carne: João 1,1-14 e 1Timóteo 3,16. Iremos analisá-los, para verificarmos se corroboram essa hipótese ou não.
Antes, é preciso abordar quatro pontos importantes que, muitas vezes, não são levados em conta na interpretação dos textos bíblicos:
1) temos a informação, conforme os próprios textos bíblicos, de que Pedro e João “eram homens iletrados e incultos” (At 4,13), fato que nos faz duvidar de que foi mesmo João quem teria escrito o evangelho que lhe atribuem.
2) as profecias, nas quais acreditam, dizem que Deus enviaria um Messias e não que Ele mesmo viria.
3) em nenhuma passagem do Novo Testamento há algo, literalmente, afirmando que Jesus seja o próprio Deus. É certo que querem atribuir ao passo Jo 10,30: “Eu e o Pai somos um”, como sendo Jesus afirmando ser Deus; entretanto, um pouco mais a frente Jesus completa dizendo “o Pai está em mim, e eu estou no Pai” (Jo 10,38), ou seja, sendo ele o Verbo divino, teria que se manifestar em comunhão total com Deus. Além disso também incluiu todos nós nessa relação de ser um com Deus: Jo 14,20: “Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.” e Jo 17,22: “E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um”.