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‘Eloi, Eloi, Lamá Sabactani, Meu Deus, Meu Deus por que me desamparaste?’

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A frase de Jesus: “Eloi, Eloi, lamá sabactani?” (Marcos 15:34), em português: “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” incomoda muitos estudiosos da Bíblia. E ela varia: “Eli, Eli, lemá sabactani” (Mateus 27:46). E é interessante observar-se que as palavras Eloi e Eli têm como radical Eloim, que são deuses ou espíritos.

Davi a disse também (Salmo 22:1). Mas nos versículos seguintes, ele a ameniza: “Por que se acham longe de meu salvamento as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram, e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos”.

Alguns biblistas admitem que tal frase seria do bom ladrão. E as pessoas presentes à crucificação entenderam que Jesus estava chamando por Elias.

Já Lucas e João atribuem a Jesus outras frases ditas durante a sua agonia. “Pai, nas tuas mãos entrego meu Espírito!” (Lucas 23:46). E João, o único apóstolo que assistiu à morte de Jesus, afirma que suas últimas palavras foram: “Está consumado!” (João 19:30).

Essas divergências entre os evangelistas agravam realmente a questão. Se o ser ou os seres “Eloi” e “Eli”, como vimos, têm o radical de “Eloim” (deuses, espíritos). Assim fica reforçada a ideia de que teria sido mesmo o bom ladrão que proferiu essa frase, se fosse Jesus mesmo que a tivesse dito, Ele teria usado o termo Pai, com que, geralmente, Ele se referia a Deus. E, assim, então, teria dito: “Meu Pai, Meu Pai, por que me desamparaste?” Mas há também a hipótese de que algum copista ou tradutor possa ter acrescentado essa frase ao texto bíblico.

E o que pesa mais mesmo para nos deixar em dúvidas a respeito dessa passagem do evangelho, como já dissemos, é a divergência entre os quatro evangelistas. Ademais, a frase mais confiável deve ser a de João, pois ele foi o único apóstolo evangelista que presenciou a morte de Jesus. Os outros se esconderam com medo. Quando Jesus foi preso, por exemplo, Pedro, por três vezes, até negou conhecê-Lo.

Nós espíritas consideramos Jesus o espírito humano mais perfeito que já veio ao nosso mundo. E diante das dúvidas apresentadas, achamos difícil que Ele tenha mesmo dito essa frase em análise, pois ela tem um sentido de reclamação e de revolta contra Deus, o que é inadmissível para Ele. Além disso, apesar de bíblico o termo Eloim, do qual se derivariam Eloi e Eli, ele cheira politeísmo, uma ideia totalmente imprópria para o monoteísmo de Jesus.

Talvez ela possa ser uma citação incompleta, com parte subtendida do Salmo 22:1-5, por Jesus, Mateus, Marcos, ou ainda por um copista ou tradutor. Se for o caso, ela não nos ficaria tão estranha. Fora disso, realmente, temos também dificuldades em aceitá-la como tendo sido dita literalmente por Jesus!

José Reis Chaves
Maio/2014

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.
Esta reflexão não necessariamente representa a opinião do GAE, e é de responsabilidade do expositor.

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