O Judaísmo recebeu influência das religiões pagãs das nações vizinhas da Palestina. E essas influências passaram também para o Novo Testamento e, pois, para o cristianismo. Uma delas é a de que Deus gosta de sacrifícios. Isso porque o Espírito de Deus foi, no passado, confundido, frequentemente, com os espíritos manifestantes atrasados que gostam de sacrifícios de sangue. Aliás, tal engano aparece muito, também, na própria Bíblia, principalmente, no Velho Testamento.
E são Paulo, que foi judeu fervoroso, foi quem levou para o Novo Testamento essas ideias de sacrifícios agradáveis a Deus, da doutrina da Redenção pela morte de Jesus na cruz e, também, da salvação pela graça e pela fé, e não por obras (se bem que ele se referiu às obras das leis mosaicas). As suas doutrinas estão nas suas 13 cartas. E como elas foram os primeiros escritos do Novo Testamento, elas influenciaram os autores dos demais livros bíblicos adotados pelo cristianismo e, consequentemente, os teólogos cristãos.
Santo Agostinho defendeu muito as doutrinas paulinas da salvação pela graça e fé, polemizando muito a respeito dela com o grande teólogo Pelágio, seu contemporâneo. Também Lutero defendeu-a muito. A Igreja foi contra ela durante séculos, seguindo, pois, a teologia de Pelágio. Mas, recentemente, por influência dos protestantes e dos evangélicos, a Igreja passou a aceitar também, mas discretamente, essa doutrina.
Há momentos em que Paulo até parece continuar judeu: “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne.” (Romanos 2: 28). E chega mesmo a dizer que ele tem seu evangelho. “No dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens de conformidade com o meu evangelho.” (Romanos 2: 16).
Vejamos agora a sua doutrina de sacrifícios agradáveis a Deus, inclusive a da morte de Jesus na cruz como Redenção da Humanidade: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: isto é meu corpo, que é dado por vós; fazei isso em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” (1 Coríntios 11: 23 a 25).
Eis agora essa doutrina passada para o evangelho de Marcos: “E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e lhes deu, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo. Então lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da (nova) aliança, derramado em favor de muitos.” (Marcos 14: 22 a 24).
Mas Jesus até repudia sacrifícios: “Mas se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios, não teríeis condenado a inocentes.” (Mateus 12: 7).
Afinal de contas, é o sacrifício da morte de Jesus na cruz ou a prática das boas obras que nos salva? Sem dúvida, são as boas obras, pois Jesus assim ensinou: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória do Pai, com os anjos, e então dará a cada um conforme as suas obras.” (Mateus 16: 27). E é o próprio Paulo que, em outra parte, surpreendentemente, confirma também essa grande verdade de que Deus retribuirá a cada um segundo o seu procedimento. (Romanos 2: 6).
José Reis Chaves
Setembro/2015