Dividimos os que não aceitam a comunicação com os mortos em dois grupos. Um deles é o que diz que é proibida a evocação dos mortos. O outro, mesmo diante de evidências, se recusa a aceitá-la.
Os primeiros, mais apegados ao dogmatismo de suas religiões, condenam a evocação justificando ser ela proveniente da vontade divina, quando, na verdade, não se deram conta do contrário. Se assim fosse, deveriam cumprir à risca a determinação de se matar os evocadores, ordem que está umbilicalmente ligada às proibições, mas como felizmente não há mais ninguém matando os médiuns, e a inquisição ficou para trás como uma mancha negra na história da humanidade, fica provado que não pode ter essa origem.
Quanto aos segundos, podemos exemplificá-los com o caso narrado por Clóvis Nunes, em seu livro Transcomunicação, citando o livro “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos” do astrônomo Camille Flammarion, de onde transcreveu:
“Assistia eu, certo dia, a uma sessão da Academia de Ciências, dia esse de hilariante recordação, em que o físico Du Moncel apresentou o fonógrafo de Edison à douta assembleia. Feita a apresentação, pôs-se o aparelho docilmente a recitar a frase registrada em seu respectivo cilindro”.
“Viu-se então um acadêmico de idade madura de espírito compenetrado, saturado mesmo das tradições de sua cultura clássica, nobremente revoltar-se contra a audácia do inovador, precipitar-se sobre o representante de Edison e agarrá-lo pelo pescoço, gritando: ‘Miserável, nós não seremos ludibriados por um ventríloquo. Senhor Bouillaud, chamava-se este membro do instituto. Foi isso a 11 de março de 1878. Mais curioso, ainda, é que seis meses após, a 30 de setembro, em uma sessão análoga, sentiu-se ele muito satisfeito em declarar que, após maduro exame, não constatara no caso mais do que simples vintriloquia, mesmo porque, não se pode admitir que um vil metal possa substituir o nobre aparelho da fonação humana. Segundo esse acadêmico, o fonógrafo não era mais do que uma ilusão de acústica”. (NUNES, 1990, p. 70) (grifo nosso).