A misericórdia divina é infinita. Assim, ela, como que se nos impondo à força, beneficiar-nos-á a todos nós num determinado momento das eternidades, nas quais, aliás, já estamos, já que somos espíritos imortais. “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos.” Certamente, me contestarão, alegando que Deus afrontaria o nosso livre-arbítrio, se desse a salvação para quem não a quer.
Eu gostaria de que os teólogos me mostrassem um só indivíduo que, pelas eternidades afora, não quisesse a salvação! Há doentes espirituais que, temporariamente, são indiferentes a ela. Mas por eles, Jesus diz: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem!” A expressão teológica mérito “de condigno” significa que nós somos incapazes de merecermos condignamente a salvação.
Mas, felizmente, os teólogos aceitam também o mérito “de congruo”, isto é, o valor de nossas boas obras, o que cheira um pouco a Pelágio, e contradiz Lutero. Já Huberto Rohden chamou de “antidromia” a nossa tendência para caminharmos em direção contrária à de Deus. Mas essa tendência, por ser finita, como tudo de nós o é, será também superada pela poderosa misericórdia de Deus. Destarte, podemos concluir que a nossa salvação depende de nós, do ponto de vista temporal.
Mas jamais ela deixará de se concretizar, pois esse é o projeto divino. E para Deus não violentar o livre-arbítrio temporal de alguém, que ainda não cuida satisfatoriamente de sua salvação, Ele nos deu a imortalidade espiritual e o conseqüentem fenômeno da reencarnação, com os quais Deus nos proporciona tantas oportunidades de salvação, quantas nos forem necessárias, neutralizando, assim, os inconvenientes de nosso livre-arbítrio.
Aliás, a misericórdia divina, justamente por ser infinita, abrange a reencarnação. Trigueirinho afirmou que um grande erro nosso é ignorarmos que a misericórdia de Deus é maior do que os nossos pecados. E São Dom Orioni, canonizado agora em 16-5-2004, ensinou que a misericórdia de Deus é tão grande, que por maior que seja o pecador, se ele pedir perdão a Deus, ele se salvará.
Mas eu afirmo que, por ser a misericórdia divina infinita, todos os seres humanos se salvarão, um dia, pois que, se um só se perdesse, irremediavelmente, Deus teria falhado em seu projeto humano, o que jamais ocorrerá, pois, por essa mesma poderosa misericórdia divina – não importa quando -, todos se iluminarão e abandonarão o pecado, como nos mostra a Parábola do Filho Pródigo. Ademais, se Deus quer que todos se salvem, quem poderá contra Ele, o demônio? Seria ele mais poderoso do que Deus?