Tudo no Universo tem uma dualidade: bem e mal; dia e noite; macho e fêmea; luz e trevas. Daí, o maniqueísmo com o Deus do bem (Mazda) e o do Mal (Ariman). Santo Agostinho, antes de sua conversão ao cristianismo, era maniqueu. E, na prática, é grande a influência do maniqueísmo na maioria das religiões. É que essa crença está no inconsciente coletivo da maioria das pessoas. Pensa-se em Deus e, automaticamente, vem-nos à mente a ideia contrária à de Deus, isto é, a do chamado diabo, “diabolos” em grego. Mas o seu significado original nessa língua bíblica é de um símbolo do mal ou do pecado, e não de um espírito mau. Aliás, como digo, fizeram uma confusão dos diabos com o diabo! E foram os teólogos cristãos e os tradutores da Bíblia que fizeram essa confusão!
Já os demônios são espíritos. Mas eles não foram criados maus por Deus, pois são espíritos humanos e que, portanto, se tornaram maus por eles mesmos, com sua inteligência e seu livre-arbítrio. E a vocês, meus caros leitores, que tiverem dificuldades para aceitarem que os demônios são espíritos humanos, o que não é estranho, recomendo que vejam, em qualquer dicionário, que demônio é sinônimo de gênio ou espírito familiar. E aos que tiverem um dicionário grego, recomendo que consultem a palavra “daimon” (no plural “daimones”), que significa demônio ou espírito humano desencarnado. E essa palavra bíblica “daimon” com esse significado de espírito humano aparece também em outros livros em grego, escritos igualmente na época em que a Bíblia foi escrita. Exemplos disso encontram-se nas obras de Platão e Heródoto. Aliás, Platão, pelo seu brilhantismo filosófico, é até chamado de ‘demônio divino’!
E, nesta oportunidade, lembremos aqui que a hermenêutica nos ensina que, para interpretarmos os textos antigos, devemos tomar o significado das palavras na época em que eles foram escritos, pois, com o decorrer dos tempos, elas mudam de sentido. Está errada, pois, a ideia de que todos os demônios (“daimones”) na Bíblia são somente espíritos maus e pertencentes a outra categoria não humana de espíritos. E dizemos isso, não porque o espiritismo e outras religiões o afirmam, mas porque assim está na Bíblia!
E, realmente, na Bíblia, todos nós, espíritos encarnados e desencarnados, somos demônios bons ou maus e ou de nível de evolução mediano, que é a maioria de todos nós. E somos também os deuses da Bíblia, chamados igualmente de deuses falsos ou pagãos e, como vimos, de demônios, mas todos somos espíritos humanos. “Vós sois deuses” (Salmo 82: 6; e João 10:34).
Somos todos, pois, criaturas ou filhos de Deus único. Jesus é também Filho de Deus único. Deus é que é, pois, único, de acordo com o monoteísmo bíblico. Sim, Jesus é Filho único de Deus, mas no sentido de que apenas Ele atingiu um alto nível de evolução. Certamente, algum leitor dirá que Jesus não evoluiu. De acordo com algum dogma, não. Mas de acordo com a Bíblia, sim, Jesus evoluiu. “Tendo sido ‘aperfeiçoado’, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.” (Hebreus 5: 9).
E Jesus é também Deus, mas um Deus relativo, pois, é irmão nosso. (“…Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galileia e lá me verão.” (Mateus 28: 10).
De fato, Jesus é nosso irmão maior e, também, dos deuses e anjos bíblicos. Mas entre Ele e o Deus absoluto, imutável, único e Pai dele e de todos nós, como disse Ário, há um abismo!
José Reis Chaves
Outubro / 2016
PS: “Presença Espírita na Bíblia” com este colunista, na TV Mundo Maior.