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O Arrependimento

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Numa grande metrópole, vivia João Alves da Silva. Era mais conhecido como João Carpinteiro, quase ninguém sabia o seu nome de batismo. Afamado no bairro onde morava, era um dedicado e responsável profissional. Sempre requisitado, nunca lhe faltava o trabalho, de onde retirava o sustento da sua mulher Ritinha e seus três filhos: Pedro, Cristóvão e Luzia.

Era uma pessoa muito religiosa, sempre frequentava a Igreja aos domingos, onde ouvia atencioso as prédicas do vigário local.

Sua esposa vinha, há tempos, lhe pedindo para comprar uma televisão colorida de 29 polegadas, porque a que possuíam, além de muito velha, era a “preto e branco”, e de apenas 14 polegadas. Era seu sonho ver as novelas da Globo numa tela que mais parecia um cinema. João alimentava o desejo de satisfazer ao sonho de sua esposa. E, sem que ela soubesse, foi retirando, todo mês, do seu salário uma pequena quantia para comprar a TV.

Chegando dezembro, véspera de Natal, João percebeu que já possuía dinheiro suficiente para comprar a TV. Depois de percorrer várias lojas buscando o menor preço, finalmente compra o aparelho para ser entregue na noite do Natal.

Na manhã do dia 25 de dezembro, vamos encontrar toda a família de João boquiaberta, sem poder falar, diante do presente de Ritinha. As crianças, então, nem se fala do seu estado de euforia. A partir daquele dia, viveriam uma alegria contagiante, pois a família passou a assistir ao “cinema” em casa.

Na passagem de ano, João e sua família se dirigiram para a casa de seu irmão José que morava do outro lado da cidade, atendendo ao convite dele de passarem a virada de ano juntos.

Neste meio tempo, vamos encontrar, nas redondezas da casa de João, à espreita, um conhecido malandro que vivia no bairro apelidado de “O Gato”, não que fosse um bonitão, mas pela razão de que não respeitava nada que pertencia a outra pessoa. Ele sabia que João Carpinteiro não estaria em casa. E, adentrando, roubou a tão desejada televisão colorida.

Passadas as comemorações, João volta à sua casa. Ao descer da “lotação” (nome bem apropriado para o transporte coletivo, já que, realmente, só vive lotado mesmo), vê sua casa e estranha-a, pois lhe parecia, ao longe, que a porta estava aberta. Apressando os passos, comprova que, de fato, estava aberta. Entra. E, na sala, já teve a surpresa desagradável de não ver a TV.

Choro e sentimento de revolta envolvia a todos da família diante da “tragédia”. Voltemos, agora, a nossa atenção para o malandro que havia roubado a TV de João. Ele conhecia bem João, inclusive costumava tomar algumas cervejas com João, quando juntos comemoravam a vitória do seu time do coração contra o maior rival.

Estava ele, “O Gato”, sentado confortavelmente numa poltrona em frente à TV que furtara, quando pensamentos “estranhos” começaram a lhe “assaltar” a mente. Imaginou como deveria estar a família de João com o roubo da TV. Sentiu um desejo de devolvê-la. Esse pensamento tomava conta de sua mente, e passou mesmo a sentir-se arrependido do que fez.

Naquele mesmo dia, em suas orações, pediu perdão a Deus pelo seu ato. Na certeza de ter sido atendido com o perdão divino, não mais pensou no assunto.

Este é o fim de nossa história.

Aonde eu quero chegar?, perguntaria você. Responderemos.

Analisemos a questão do arrependimento do malandro que roubou a televisão da família de João. É suficiente tal atitude? Ou você concorda comigo que se ele estava arrependido, deveria também devolver o produto do roubo ao dono, ou seja, reparar o erro.

Seria,assim, uma atitude digna e merecedora de perdão da vítima. E, fatalmente, João o faria. Entretanto, como se deu o episódio, não haveria, até mesmo por uma questão de justiça, o perdão.

Veja que incoerência! É exatamente isso que esperamos de Deus. Infringimos, por sinal, repetidas vezes, suas Leis, e contamos com o seu perdão mesmo, sem que tenhamos reparado todo o mal que praticamos.

Pense nisso!

Nov/2001.

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Paulo Neto
É palestrante e articulista da Mídia Escrita Espírita e não Espírita, com vários artigos publicados em um grande número de jornais e revistas, muitos dos quais poderão ser encontrados na Internet e principalmente neste site.
Esta reflexão não necessariamente representa a opinião do GAE, e é de responsabilidade do expositor.

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