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O Céu e o Inferno

Será que o conceito que aprendemos do Céu e do Inferno estaria, nos dias de hoje, sendo aceito pela maioria das pessoas? Pergunta que fica em minha mente e que gostaria de desenvolver sob a ótica da Doutrina Espírita.

Não iremos discutir se é certo ou errado, o que propomos é desenvolver uma ideia no sentido de mostrar que hoje podemos ter uma visão mais atual a respeito do assunto sem ferir suscetibilidades.

Em que lugar estariam localizados o Céu e o Inferno? Temos aprendido que o primeiro fica “lá em cima” e o segundo “lá em baixo”. Ora sendo a terra redonda, teríamos, na visão do homem, o Céu na região sideral e o Inferno no centro da Terra, pois não poderia passar daí. Não estando dessa forma localizados poderíamos afirmar que este conceito está em dizer a nós todos que seremos recompensados pelo nosso bom comportamento perante as Leis Divinas ou seremos “castigados” por infringi-las. É antes de tudo um estado íntimo de cada um de nós em relação a Deus.

Dizem-nos que no Céu iremos viver na eterna contemplação de Deus. Visão, talvez, associada à ideia de que o trabalho foi um castigo de Deus aos homens, não uma necessidade de nosso organismo físico, que de outra forma se atrofiaria.

E desta maneira o Criador continuaria trabalhando e a criatura não iria trabalhar, viveria nesta nova dimensão na ociosidade eterna? Não seria contrário ao que disse Jesus: “Meu Pai continua a trabalhar até agora, por isso eu também trabalho”. (João 5, 17).

E quanto ao Inferno, se não o aceitarmos no sentido figurado, de que as nossas más ações acarretariam “penalidades” por algum tempo, e nunca eternamente, estaríamos frontalmente contra a misericórdia e a justiça Divina. A pergunta fundamental que poderíamos fazer é: Se Jesus nos recomenda a perdoar “setenta vezes sete” (Mateus 18, 21-22), tal preceito só valeria a nós, não seria praticado por Deus? Assim o “perdão” de Deus sendo infinito não se coadunaria com “as penas eternas”.

Vamos recorrer a Lucas 15, 11-24, na parábola do filho pródigo:

“Disse ainda:” Um homem tinha dois filhos. O caçula disse a seu pai: ‘Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe’. E o pai repartiu seus bens entre os dois. Poucos dias depois, o caçula juntou todos os seus bens, partiu para uma região longínqua e esbanjou tudo por lá, vivendo dissolutamente. Depois de gastar tudo, uma fome terrível assolou aquela região e ele começou a passar privações. Então ele ficou como empregado de alguém daquela região, o qual o enviou aos seus campos para guardar porcos. Bem que ele desejava matar a fome com as vagens que os porcos comiam. Mas, nem isso lhe davam! Caindo, então em si, disse: ‘Quantos empregados de meu pai têm pão à vontade e eu aqui morrendo de fome! Vou partir, voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai pequei contra o céu e contra ti. Não mereço mais ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados!’ Ele partiu de volta para seu pai. Ainda estava longe, quando seu pai o avistou e ficou penalizado. Correu, então, ao seu encontro, abraçou-o cobrindo-o de beijos. O filho lhe disse: ‘Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não mereço mais ser chamado seu filho!’ Mas o pai ordenou aos seus empregados: ‘Trazei-me depressa a melhor roupa e colocai nele. Ponde um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei também o novilho de engorda, matai-o, comamos e façamos uma festa; porque meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado! ’ E começaram a festa.”

Temos nesta parábola a representação alegórica de Deus, personificado pelo pai, que vem receber o filho de braços abertos, apesar de tudo que ele tinha feito. Não houve qualquer espécie de castigo, muito ao contrário, devolveu-lhe o anel da família, restabelecendo em plenitude sua condição de filho amado.

Gostaria de perguntar a uma abnegada mãe se ela ficaria feliz no Céu vendo seu filho, aquele rebento de seu coração, em sofrimento eterno no Inferno? A lógica e a razão nos apresentam como resposta um não. Não há como ser feliz nestas circunstâncias. Não seria como agem aqui na Terra, quando estouram as rebeliões nos presídios, onde vemos as mães clamando e chorando pelos seus filhos, temerosas por suas vidas? Apesar de nós os vermos como criminosos elas só os enxergam como seus filhos.

Por outro lado, se ainda acreditarmos no inferno, estaríamos aceitando que o homem é mais misericordioso que Deus. Vemos a cada dia que se passa as leis penais dos homens abolirem a pena de morte e a prisão perpétua e que a pena decretada pela justiça humana é abrandada quando o sentenciado tem bom comportamento no estabelecimento correcional, sendo, inclusive, solto antes mesmo de cumprir toda a pena, é reintegrado à sociedade em que ele vive. Como poderia Deus agir com menos misericórdia e justiça que os homens? Se um pecador levou a vida inteira transgredindo as Leis Divinas, tendo ele vivido 100 anos, por exemplo, como será que Deus agiria neste caso? Daria a ele 100 anos de sofrimento… 1000 anos… 1 bilhão de anos… ou a eternidade como pena quando por apenas 100 anos ele foi um transgressor de suas Leis? Onde estaria a justiça e a misericórdia Divina? Nós os Espíritas temos a certeza de que não agiria desta forma, e ao invés de colocá-lo no inferno eterno, daria a ele uma nova chance, onde ele tivesse a oportunidade de pagar “até o último centil”.

E a maneira que Deus usa para mostrar sua misericórdia e justiça é dando-nos uma nova vida. Sim, é isto mesmo, através da reencarnação nós temos, por misericórdia e justiça, uma nova oportunidade de resgatarmos os nossos erros de vidas anteriores. E dentro deste princípio, todos nós chegaremos um dia à condição de espíritos puros, habitando as regiões celestes, trabalhando para que a vontade de Deus se cumpra em todo o universo.

Nov/94
Referência bibliográfica:
Novo Testamento, LEB – Edições Loyola, 1984.

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Paulo Neto
É palestrante e articulista da Mídia Escrita Espírita e não Espírita, com vários artigos publicados em um grande número de jornais e revistas, muitos dos quais poderão ser encontrados na Internet e principalmente neste site.
Esta reflexão não necessariamente representa a opinião do GAE, e é de responsabilidade do expositor.

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