Os escritores estão sujeitos a embaralhar algumas de suas idéias, principalmente se elas forem filosóficas, envolvendo causas e efeitos. E até os autores hagiógrafos da Bíblia cometeram esses deslizes.
Exemplificando: Há na história metafórica de Adão e Eva duas questões que saltam aos nossos olhos, ou seja, o intelecto e o pecado do casal. Mas o autor do texto coloca o pecado como causa do efeito intelecto, quando é o contrário, pois o intelecto é que é causa do pecado. Adão e Eva tiveram primeiro o intelecto ou o chamado conhecimento da Árvore do Bem e do Mal, e só depois é que puderam adquirir condições de pecar. Realmente, enquanto eles tinham uma inteligência rudimentar, como a dos animais irracionais, sem terem ainda o uso da razão, eles não poderiam pecar. Não há pecado sem conhecimento e consentimento.
Se essas confusões estão nos escritos até da Bíblia, entre os escritos e ensinos dos teólogos nem se fala, pois o número deles, ao longo dos séculos, é incomparavelmente muito superior ao dos autores bíblicos. E assim é que os teólogos escreveram muitas verdades, mas também muitas questões polêmicas, pois ainda não faziam o uso da chamada hermenêutica no estudo da Bíblia.
A essas questões teológicas duvidosas reagiram os teólogos hereges, mais sábios, geralmente, do que os teólogos da ala ortodoxa da Igreja. Mas os ortodoxos, contando com o apoio do poder civil, venceram os hereges. Se, ao contrário, fossem os hereges os vitoriosos, a história do cristianismo seria outra.
E um erro, em que mais incidiram os teólogos ortodoxos e até alguns heréticos, foi o relativo aos demônios, diabos, satã, satanás, anticristo, lúcifer, serpente, dragão etc. De todos os nomes citados, só os demônios são espíritos (humanos), que, obviamente, podem ser neutros, bons, atrasados (obsessores) e até aqueles que tomam posse de suas vítimas.
Muitos teólogos nem acreditam em demônios e diabos, satanás, lúcifer etc., tal a confusão dos diabos que os teólogos fizeram com esse assunto. Os substantivos diabos, satanás, lúcifer (intelecto) não se referem a espíritos maus, como muita gente ainda pensa, mas aos pecados nossos, tais como: o orgulho, o ciúme, a inveja, o crime etc. Daí que diabo e satã significam opositor, adversário, ou seja, inimigo dos demônios (espíritos humanos), portanto, de nós mesmos!