Uma bela jovem no portão de sua casa, olhava à sua direita, para o final da rua, ansiosa para ver apontar o carteiro, que todos os dias, invariavelmente, subia a rua àquele horário. Embora para ela uma eternidade, não passou uns dois minutos e lá vem ele, mochila amarela cuja alça trespassava-lhe o corpo, o que a fazia pender para o lado.
Mal se conteve quando ele perguntou: “Você é a senhorita Cristina?” – Sim, respondeu ela mais do que depressa e já vendo que o carteiro lhe estendia uma carta. Pegou-a e olhando-a viu que o remetente era quem esperava que fosse, o seu noivo, que há tempos estava fora da cidade, contratado por uma empresa que construía um hospital, numa cidade em outro estado.
Ela agradece ao carteiro pelo “envio” da carta e, subitamente, se lança contra ele, beijando-o sofregamente, quase o derrubando no chão. Desconcertado e a muito custo conseguiu safar-se daquele enlace, e, apressadamente continuou seu nobre trabalho de entregar correspondências aos moradores da cidade.
Pois é, caro leitor, estamos fazendo algo semelhante ao que fez essa moça. Estamos valorizando o mensageiro achando até que foi ele quem escreveu a carta em detrimento do real autor. Isso acontece, no meio espírita, quando endeusamos alguns médiuns, colocando-os bem acima do autor das mensagens, e, muitas vezes, tratando essas mensagens como se deles fossem.
Com justa razão Kardec preferiu não citar os nomes dos médiuns que foram instrumentos dos Espíritos superiores para receberem as suas revelações. Talvez fizéssemos deles ídolos e pouco valor daríamos ao conteúdo das revelações que nos traziam sob o comando direto do Espírito de Verdade.
Devemos, portanto, refletir como nós estamos considerando os médiuns, se não os estamos beijando, sem nos preocuparmos em ler o teor das mensagens de que são os mensageiros.
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Dez/2016