O dízimo começou com Moisés, após receber as tábuas da aliança: O Senhor falou a Moisés para ajuntar entre os israelitas, ofertas para Ele. As ofertas seriam: ouro, prata, bronze, tecidos, peles, madeiras, tintas, azeite e pedras preciosas, para a construção do santuário (Ex 25:1 a 9, 35:4 a 9). Depois foi pedido uma taxa de 5 gramas de prata de todos os israelitas que tivessem mais de 20 anos, a título de recenseamento, para ser aplicada nos serviços da tenda da congregação. (Cap 30:11 a 16). Era cobrada uma tarifa pelos votos, sendo o seu valor cobrado de acordo com a idade e o sexo do ofertante. O pagamento era feito em prata, animais e imóveis (terrenos foreiros de hoje). Lv 27.
O Senhor dá como herança aos levitas o dízimo, do qual será descontado a 10ª parte para ser entregue a Aarão como tributo ao Senhor. O restante será o salário dos levitas (Nm 18:21 a 32). O dízimo é cobrado de todo produto da terra, inclusive pecuário. Parte do dízimo era destinado aos órfãos e às viúvas (Dt 14:22 a 29). Tobit se dirigia, por ocasião das festas, a Jerusalém a fim de recolher o dízimo conforme a lei de Moisés (Tb 1:6 a 8. Este livro não consta da bíblia protestante). Vemos aí uma divergência na lei, citando uma lei de Moisés e não de Deus. Em 2Cr 24:4 a 9 a expressão é mais clara: Joás, rei de Judá e Jerusalém resolveu restaurar o templo e fez publicar em Judá e em Jerusalém a ordem para trazer para o Senhor o tributo que Moisés, o servo do Senhor tinha imposto a Israel, no deserto. Se a lei era de Deus, por que ela precisava de decretos ou ordens dos reis?
Essa cobrança nunca foi aceita de bom grado pela população, que, às vezes, tinha que pagar tributo sobre tudo que produzia, até para o próprio sustento, como por exemplo, as hortaliças. Como era uma obrigação, o pagamento do dízimo sempre foi motivo de discórdia e controvérsias, como podemos observar em alguns trechos da bíblia: No livro de Miquéias 6: 6 a 8, diz: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei diante do Deus do céu? Poderia apresentar-me com holocausto ou com novilhos de um ano? Terá o Senhor prazer nos milhares de carneiros ou nas miríades de torrentes de óleo?… Já te foi revelado, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige de ti: nada mais do que praticar o direito, o amor, a bondade e caminhar humildemente com teu Deus”. Em Amós 5: 21 a 24 diz: “Odeio, desprezo vossas festas e não gosto de vossas reuniões. Porque se me ofereceis holocaustos não me agradam vossas oferendas e não olho para o sacrifício de vossos animais cevados. Afasta de mim o ruído de teus cantos, não quero ouvir o som de tuas harpas. Que o direito corra como a água e a justiça como rio caudaloso! Assim diz o Senhor”.
Podemos notar nestes dois últimos livros que os profetas dão a entender que o que agrada a Deus são as boas obras e não as ofertas materiais.
Passando para o Novo Testamento encontramos passagens sobre o dízimo nos três primeiros evangelistas: Mt 22: 15 a 22, Mc 12:13 a 17 e Lc 20: 19 a 26: “Jesus é interrogado pelos fariseus se devem ou não pagar o tributo, e o Mestre responde: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus, deixando todos maravilhados”. Jesus admoesta os fariseus dizendo: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas que pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não vos preocupais do mais importante da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! É isso que importa fazer sem, contudo omitir aquilo (Lc 11:42)”. No capítulo 18:9 a 14, parábola do publicano e do fariseu, o fariseu orava de pé, orgulhoso, se dizia justo, que pagava o dízimo e não era como o publicano. O publicano orava de joelhos e apenas pedia misericórdia, pois reconhecia os próprios erros. Jesus diz: “Este voltou para casa justificado e aquele não”.
Os fariseus se orgulhavam de obedecerem à lei e de pagarem o dízimo, julgando que isso era suficiente para se salvarem. Hoje em dia algumas religiões ainda usam desses meios para garantirem a salvação dos seus seguidores. Seus dirigentes, usando da fé dos seus fieis, prometem a felicidade, neste e no outro mundo, mediante compensação pecuniária. Exortam seus seguidores a desafiarem a Deus através de ofertas em dinheiro, alegando que quanto maior for a quantia ofertada, maior será a recompensa. Muitas vezes assistimos depoimentos de alguns que adquiriram casa, carros importados, linhas telefônicas, imóveis, etc… e que, por isso, se tornaram ofertantes e dizimistas fiéis. Baseados no AT, em que a contribuição era obrigatória, esses dirigentes estão conseguindo amealhar grande patrimônio ensinando aos fiéis a prática da barganha com Deus. Condenam Judas porque vendeu Jesus por trinta moedas, mas continuam a vendê-Lo, por muito mais, a grosso e a retalho.
Na idade média os dirigentes da igreja Católica, sem recursos para a construção de grandes obras, usaram as indulgências para arrecadação de grandes quantias, como é o caso da construção da Capela Sistina, pelo Papa Sisto IV (1471/1484). Comprando indulgência, que era uma espécie de certidão, o pecador reduzia os anos de pena a cumprir no purgatório.
Frederico, o sábio, príncipe da Saxônia, ganhou uma fortuna com a venda das mesmas. Ele chegou a possuir em seu castelo 5.005 relíquias, entre lascas da cruz do Cristo e até um espinho da coroa, com certificado de autenticidade. Essas relíquias lhe davam um desconto de 1.443 anos de purgatório. Era vendido até vinho das bodas de Caná. Segundo a Doutrina Espírita esses fatos hão de pesar no futuro da igreja, previstos por João no Apocalipse 18:8 a 19.
Enquanto o Cristo pregava que seu reino não era deste mundo, os que se intitulavam seus sucessores vendiam o perdão de Deus na terra. Observando a peregrinação do Mestre vemos que Ele nunca cobrou pela Sua palavra nem pelas curas que realizou. Ele mesmo afirmava que não tinha sequer uma pedra para recostar a cabeça, nem construiu igreja nenhuma.
No evangelho, único tesouro do cristão, não há uma só palavra sobre o perdão em troca de dinheiro. Os vendilhões do templo que Jesus expulsou, continuam agindo nos dias de hoje e continuarão agindo até o dia em que o povo começar a entender que Deus nada tem para vender, somente para dar, de acordo com o nosso merecimento.
Em Mt. 23:14, Jesus critica os fariseus que devoram as casas das viúvas sob pretexto de prolongadas orações. No cap. 8:1 a 4 ele, ao curar um leproso disse-lhe: “Não digas a ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta a oferta que Moisés determinou (Lv 14:12)”. Confirmados por Mc 1:40 a 45 e Lc 5:12 a 14, todos eles afirmam que Jesus disse que Moisés determinou e não Deus. No cap 6:19 a 21 ele diz: “Não ajunteis tesouro na terra…”
No Alcorão, livro sagrado do Islã, também encontramos diversas passagens alusivas ao tributo; Na Surata 9:18 diz: Só freqüentam as mesquitas de Deus aqueles que crêem n’Ele e no dia do juízo final, observam a oração, pagam o tributo e não temem a ninguém além de Deus (2:261, 262, e 277-23:1 e 4). Muitas vezes o tributo não era usado corretamente como vemos na Surata 9:34: “Ó crentes, em verdade, muitos rabinos e monges fraudam os bens dos demais e os descaminham da senda de Deus”. Na Surata 22:36 e 37 encontramos referencia à verdadeira caridade: “E os camelos, fizemo-los para vós, entre os ritos de Allah; neles, há bem para vós. Então, mencionai o nome de Allah sobre eles, enquanto perfilados para serem imolados. E, quando abatidos e, caem sobre os flancos, comei deles e alimentai o pobre e o mendigo. Assim, submetemo-los a vós, para serdes agradecidos. Nem sua carne nem seu sangue alcançam a Allah, mas O alcança vossa piedade. Assim, Ele vo-los submeteu, para que magnifiqueis a Allah, porque Ele vos guiou. E alvíssara a bem-aventurança aos benfeitores”. Encontramos semelhança na Bíblia: (1CO 15:50) – E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção.
Até hoje alguns lideres religiosos desviam o dinheiro de suas igrejas em beneficio próprio e de seus familiares. Muitos enveredam pelo caminho da política e alguns se esquecem de seus deveres sacerdotais, fazendo de seus templos religiosos palanques e comitês eleitorais.
Quando Jesus despachou seus mensageiros para o mundo, recomendou: (LC 22:35) – E disse-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa? Eles responderam: Nada.
O pagamento do dízimo é justo se for para ser destinado ao socorro dos necessitados e não como pagamento de salário, pois o sacerdócio não deve ser uma profissão e sim uma missão. Uma missão divina, pois se alguém que se colocar no lugar do Mestre deve lembrar que ele não cobrava de ninguém: “Dai de graça o que de graça receberes”. Mt 10:8. Alguém sabe quanto custa um terreno no céu? Pois é, mas tem gente que diz que está investindo no reino dos céus. Só queria que me apresentassem uma escritura de algum imóvel de lá.
No dia em que as escolas de estudos bíblicos começarem a deixar de lado as paixões e os homens raciocinarem, além da letra, a obra estará completa porque terá se cumprido a palavra de Jesus: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” João 8:32.
Petronilo Filho
João Pessoa-PB