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Sem substância

A palavra hipóstase, “hipostasis” em grego, “substantia” em latim, foi entendida como substância no Concílio de Nicéia (325). Mas no de Constantinopla (381), seu significado foi pessoa (Meunier, Bernard, “O nascimento dos dogmas cristãos”, página 81, Edições Loyola). Tentavam os teólogos explicar Deus, Jesus Cristo e a Trindade. E, assim, acabaram antropomorfizando o próprio Deus, transformando-O em pessoa. Mais tarde, com a instituição do Espírito Santo, Ele se tornou também pessoa.

E hoje, os hereges do cristianismo primitivo são considerados pelos teólogos como sendo também “padres da Igreja”, pois eles colaboraram igualmente para a formação da teologia cristã. A hipóstase tem hoje vários significados: substância, essência, Verbo de Deus (palavra proferida), pessoa e indivíduo. Para uns, há uma hipóstase para cada pessoa da Trindade.

Para outros, como São Jerônimo, só existe uma para o conjunto da Trindade. Mas há também outros fatores que parecem não ter sido considerados pelos teólogos, e que deixam como que sem substância certas questões teológicas. Substância é o que está na base de um ser, sustentando-o.

E porventura teria Deus alguma substância ou substrato para O sustentar? A essência de Deus caracteriza-se por Ele ser a causa primária de todos os seres (Kardec) ou o único ser incontingente (Stº Tomás de Aquino). Realmente, Deus é incriado, já Jesus Cristo foi criado.

Quanto ao Verbo de Deus (palavra proferida), no momento em que ela teria deixado de ser apenas interna em Deus, para se tornar proferida ou manifestada, teria ela modificado Deus, que é imutável? Já pessoa tem na sua etimologia, “persona” em latim, o sentido de máscara. Com efeito, nós somos espíritos imortais em formas transitórias materiais mortais de pessoas (máscaras).

Sob essa ótica, poderia Deus ser pessoa? Por fim, hipóstase ainda significa indivíduo ou indivisível. Como pode, então, Deus ser divido em três pessoas? Se Deus é um só, Ele pode ser três? E quando alguém se dirige, em prece, a uma pessoa da Trindade, isoladamente, ele está ou não sendo politeísta? É por essas coisas e outras que o cristianismo ficou como está! Parabéns aos judeus, islamitas, espíritas e outros, monoteístas sem confusão!

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.