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Violação da Bíblia

A Bíblia, no decorrer dos séculos, teve vários de seus textos alterados, para que se adaptassem às doutrinas dos dogmas que foram sendo instituídos. E isso ocorreu principalmente com as traduções da Vulgata Latina de São Jerônimo para as outras línguas.

Exemplos: a tradução da palavra latina “ressurrectus” (ressuscitado) por “vivificado” ou “revivificado” (1 Pedro 3,18). É que “ressuscitado” deixa mais claro que a ressurreição de Jesus foi de espírito e não de corpo.

A versão do vocábulo latino “homo” (homem) foi modificada de homem para “varão” (1 Timóteo 3,5), pois “homem” deixa mais em evidência que Jesus é de fato homem e não Deus.

E eis outro exemplo: “Visito a iniqüidade dos pais nos filhos na terceira e quarta geração” (Êxodo 20,5). Na Vulgata: “Visito iniqüitatem filiorum in tertiam et in quartam generationem”. Traduziram erradamente o “na” por “até”, eliminando o sentido reencarnacionista do texto, para lhe dar outro absurdo de injustiça de Deus e contrário à Bíblia, a qual diz que o filho não leva o pecado do pai (Ezequiel 18,20). Realmente, “na” terceira e quarta geração (as gerações dos netos e bisnetos), o avô geralmente já morreu, e o seu espírito, que pecou na primeira geração como pai do pai ou da mãe do neto, já pode voltar reencarnado no corpo dum neto em diante, e pagar então o seu “carma” (meu livro: “A reencarnação na Bíblia e na Ciência”, EBM Ed.). Renomados tradutores bíblicos cometeram esse erro: o pastor João de Almeida e os padres Matos Soares e Antônio Figueiredo, que, obviamente, eram contrários à reencarnação. A Editora Sacy traduz corretamente esse texto para o francês.

Alguns teólogos tentaram justificar a tradução do “in” por “até”, dizendo que, em alguns casos, pode-se usar a preposição “até” com os verbos de movimento. Mas não seriam justamente dos tradutores da Bíblia esses “alguns casos”? De fato, a preposição “até” corresponde à latina “ad” e não à preposição “in”. Ademais, no texto em análise, a ação do verbo visitar transitivo direto recai sobre o seu objeto direto “iniqüïdade”, enquanto que a expressão “na terceira e quarta geração” é um adjunto adverbial, cuja preposição latina “in” equivale, em português, a “na” (em + a). A tradução de “in” por “até” é, pois, forçada e errada, e constitui mais um exemplo de violação da Bíblia!

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.