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A Reencarnação Prega Voltar ao Ventre de Nossa Mãe?

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“Não há coisa mais fria do que o conselho cuja aplicação seja impossível.” (Confúcio)

Lemos o artigo que leva o título de “Voltar ao ventre da mãe”, assinado pelo Professor João Flávio Martinez no site CACP, correspondente ao link (http://www.cacp.org.br/voltar-ao-ventre-da-mae/). Diante de nosso direito inafiançável de resposta, analisaremos o que ele expõe e daremos nossa contra-argumentação.

Percebemos que o estimado Professor retrata uma passagem no antigo testamento e a negação da reencarnação, mas antes de adentrar na análise do texto, devemos fazer uma correção, pois não há espírita kardecista e nem kardecismo, existe apenas espírita e espiritismo. Vejamos o texto em análise.

“Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor”. Jó 1.21 Essa é uma passagem usada por alguns reencarnacionistas para advogar alguma base bíblica para a reencarnação. Mostraremos a seguir como é pueril essa cosmovisão e desfocada da uma contextualização hermenêutica.

A partir da citação da passagem referenciada ao livro de Jó, gostaríamos de saber qual a fonte que afirma haver a assertiva de que tal passagem retrata a reencarnação. O que pesquisamos do assunto em lide e o que o professor assevera, sabemos que não retrata a reencarnação a referida passagem e o real significado retrata ao que sabemos que Jó, nascendo sem posses materiais, voltaria à pátria espiritual sem bens materiais. Outrossim, passemos às afirmações do professor para avaliarmos a sua argumentação.

A argumentação espírita não se sustenta por alguns motivos:
1) – Não se sustenta pela própria dogmática kardecista, pois de acordo com os reencarnacionistas raramente alguém retornaria ao ventre da sua própria mãe. Seria, caso isso ocorresse, uma exceção raríssima dentro do próprio ensino kardecista.

Neste primeiro ponto, até nos impressiona a afirmação do estimado professor em dizer que voltar ao ventre da própria mãe é algo que pudesse ocorrer, mesmo sendo uma exceção raríssima na codificação espírita.

2) – Pesquisamos na codificação e não encontramos a referência e caso haja a revisão de tal artigo, gostaríamos que o professor citasse a fonte de sua argumentação. Destarte, percebemos que os antigos judeus acreditavam que voltar a viver poderia se dar através do processo de retorno ao ventre de sua mãe, assim como o que Nicodemos pergunta a Jesus.

Disse-lhe Nicodemos: “Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer segunda vez?” (Jo 3:4)

Portanto, a incompreensão de como se dava o processo de reencarnação era comum, até mesmo entre os principais dos Judeus, como bem podemos perceber na pergunta de Nicodemos a Jesus. Recomendamos inclusive a pesquisa ao nosso texto “O diálogo entre Jesus e Nicodemos”, para maiores esclarecimentos. Traremos para este estudo o que já explanamos naquele para abalizar a nossa argumentação. Sabemos que é importante citar, de antemão as passagens abaixo que nos trazem a forma de como os Judeus entendiam a volta da essência (ruach) à vida corpórea, ou um novo ser (nefesh).

Jesus tendo vindo para os lados de Cesareia de Felipes, interrogou seus discípulos e lhes disse: que dizem os homens quanto ao filho do homem? Quem dizem que eu sou? Eles lhe responderam: Alguns dizem que sois João Batista, outros Elias, outros Jeremias ou alguns dos profetas. Jesus lhes disse: E vós outros, quem dizíeis que eu sou? Simão Pedro, tomando a palavra, lhe disse: Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo. Jesus lhe respondeu: Sois bem aventurado, Simão, filho de Jonas, porque não foi a nem a carne nem o sangue que vos revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus. (Mt 16: 13-17)

É importante ficar claro que por esta narrativa a reencarnação fazia parte de um dos dogmas do Judaísmo, porém, com o nome de ressurreição, levando-se em conta esta afirmativa dos apóstolos, depois da pergunta de Jesus, de que Alguns dizem que sois João Batista, outros Elias, outros Jeremias ou alguns dos profetas. Vê-se claramente que eles criam que os que haviam morrido podiam voltar a viver, mas essa ideia era um tanto que vaga e não estava claramente definida para eles, onde não compreendiam como a alma se ligava ao corpo e voltava a viver, chamando e entendendo este processo como ressurreição de alguém que houvera morrido e que poderia animar outro corpo. Há também a ideia da ressurreição com o espírito animando o mesmo corpo já absorvido pela natureza. Contudo, a Doutrina Espírita mais judiciosamente esclarece-nos como reencarnação a primeira ideia, e quanto à segunda diz de sua impossibilidade científica.

Com efeito, a ressurreição fazia menção, ou até mesmo supunha que voltava a vida o corpo que morreu, entretanto vemos que pelos fatos científicos, ficaria algo que improvável de se ocorrer, já que os demais compostos químicos e orgânicos decompostos seriam absorvidos pelo meio ambiente; não havendo desta maneira como recompor o mesmo corpo físico, cujos elementos físico-químicos já haviam sido dispersos e que há muito fora absorvidos pelo meio naturalmente. A reencarnação é o retorno da alma, ou Espírito, à vida corporal, mas em outro corpo gerando por um processo normal de fecundação do gameta masculino e feminino, que, desta maneira não traz a forma do corpo físico animado na encarnação passada, senão a personalidade que permanece, porém, com a dádiva do esquecimento do passado. A palavra ressurreição pode ser entendida como para Lázaro que por um processo natural de catalepsia, letargia, ou até o Estado de Quase Morte (EQM) que 3 a ciência nos traz mais recentemente. Com isso, prossegue a narrativa abaixo:

Entretanto Herodes, o Tetrarca, ouvindo tudo o que Jesus fazia, seu espírito estava suspenso – porque uns diziam que João ressuscitara de entre os mortos, outros que Elias apareceu, e outros que um dos antigos profetas ressuscitara. – Então, Herodes disse: Eu fiz cortar a cabeça a João, mas quem é este de quem ouvi falar tão grandes coisas? E ele tinha vontade de o ver. (Mc 6:14-15)

Os apóstolos se dirigiram ao Mestre Jesus, dizendo que Alguns dizem que sois João Batista. Importante essa afirmativa, pois demonstra que, para algumas pessoas, Jesus poderia ser João Batista. Entretanto, Jesus não poderia ser João Batista, porquanto foram contemporâneos, conhecia-se a infância e vida de João Batista e de Jesus, inclusive, puderam estar junto em certas ocasiões, o que nos leva a não haver a mínima possibilidade de João ser Jesus. Isto vem a corroborar o que dizemos anteriormente de como que a visão do retorno à vida não era muito bem definida naquela época, já que para os Judeus a reencarnação era um processo não muito claro, vindo a nos afirmar que João Batista era Elias reencarnado, admitia-se que o espírito de Elias, ou seja, a essência (ruach) habitava um novo ser que era João Batista. Destarte, João só poderia vir a ser Elias reencarnado.

A outra afirmativa dos apóstolos, a respeito de quem era Jesus é que outros diziam ser Elias. Esta outra afirmativa é ainda mais importante, já que os profetas Isaías e Malaquias previram o retorno do profeta Elias e os Fariseus e Escribas sabiam dessas profecias e as ensinavam a todos os demais Judeus. Contudo, Jesus não poderia ser Elias, já que o profeta Elias apenas viria preparar o caminho do Messias, mas não seria o Messias, uma vez que, como João Batista era o precursor de Jesus e não o próprio Messias.

Contudo, os demais apóstolos assim continuavam sobre quem seria a essência (ruach) de Jesus, onde outros diziam ser Jeremias ou alguns dos profetas. Esta última afirmativa dos apóstolos nos indica ainda mais um profeta, que é Jeremias, porém, não somente ele, mas também alguns dos profetas. Ou seja, desta maneira que os Judeus encaravam o retorno da essência (ruach) à vida corpórea, ou um novo ser (nefesh), mas que a Doutrina Espírita, mais judiciosamente postulou seu princípio científico, como reencarnação. Finalizando a passagem, assim Pedro desfecha que Jesus: Vós sois o Cristo, o Filho de Deus vivo, marcando a confirmação de que Jesus era o Messias que fora prometido não somente aos Judeus, mas a todo a humanidade. Partiremos então para o segundo ponto aventado pelo professor.

1) – Os escritores do Antigo Testamento quando referiam-se à ventre estavam falando do sepulcro onde seriam enterrados. Gênesis 3.19 mostra que os hebreus criam que o homem veio do pó da terra quando foi criado por Deus, e ao pó (terra) voltará ao morrer. A compreensão de ventre como “a terra” é vista, por exemplo, no Salmo 139.13-15:“Pois tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e esmeradamente tecido nas profundezas da terra”.

Como percebemos na análise que fizemos ao primeiro ponto, entendemos que quando os Judeus citam voltar ao ventre de sua mãe, eles entendiam que era 4 volta à vida corpórea, mas que de uma forma ainda não muito clara de como se processava a reencarnação. Vejamos as passagens citadas pelo professor e em seguida, daremos nossas considerações:

No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás. (Gn 3:19)

Nesta passagem de Gênesis, entendemos que do pó tornarás é apenas a certeza que nossos microrganismos formados pelo ventre de nossa mãe, volta ao seio da Terra que fornece tais elementos. Nada infere que voltaremos ao ventre de nossa mãe, antes, porém, voltamos ao pó da Terra. Já na passagem do Salmo 139: 13-15, citada também pelo professor, infere que nosso corpo físico volta a Terra que o deu, nada, porém referenciando que voltaria ao ventre da mãe que o gerou. Partiremos para a análise do terceiro ponto.

2) – A confirmação de que o escritor de Jó também usou a linguagem figurada do ventre deste modo, pode ser achada em Jó 38.8,29: “Ou quem encerrou com portas o mar, quando este rompeu e saiu da madre… Do ventre de quem saiu o gelo? E quem gerou a geada do céu?”

Diante dessa afirmação no terceiro ponto levantado pelo professor, como já bem explanamos, voltar ao ventre de nossa mãe remete ao entendimento de voltar à vida corpórea. Vejamos a passagem na íntegra.

Ou quem encerrou o mar com portas, quando este rompeu e saiu da madre; Quando eu pus as nuvens por sua vestidura, e a escuridão por faixa? Quando eu lhe tracei limites, e lhe pus portas e ferrolhos, E disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se parará o orgulho das tuas ondas? Ou desde os teus dias deste ordem à madrugada, ou mostraste à alva o seu lugar; Para que pegasse nas extremidades da terra, e os ímpios fossem sacudidos dela; E se transformasse como o barro sob o selo, e se pusessem como vestidos; E dos ímpios se desvie a sua luz, e o braço altivo se quebrante; Ou entraste tu até às origens do mar, ou passeaste no mais profundo do abismo? Ou descobriram-se- te as portas da morte, ou viste as portas da sombra da morte? Ou com o teu entendimento chegaste às larguras da terra? Faze-mo saber, se sabes tudo isto. Onde está o caminho onde mora a luz? E, quanto às trevas, onde está o seu lugar; Para que as tragas aos seus limites, e para que saibas as veredas da sua casa? De certo tu o sabes, porque já então eras nascido, e por ser grande o número dos teus dias! Ou entraste tu até aos tesouros da neve, e viste os tesouros da saraiva, Que eu retenho até ao tempo da angústia, até ao dia da peleja e da guerra? Onde está o caminho em que se reparte a luz, e se espalha o vento oriental sobre a terra? Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos dos trovões, Para chover sobre a terra, onde não há ninguém, e no deserto, em que não há homem; Para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer crescer os renovos da erva? A chuva porventura tem pai? Ou quem gerou as gotas do orvalho? De que ventre procedeu o gelo? E quem gerou a geada do céu? (Jó 38:8-29)

A passagem citada em Jó 38:8-29 remete a sair do ventre da madre apenas, e não ao retorno ao ventre. Partiremos, portanto, à conclusão do estimado professor.

Conclusão:
Assim, essa passagem não corrobora de modo nenhum com a 5 visão kardecista. O escritor do Antigo Testamento diria que somos criados dos elementos da terra pelas mãos de Deus, viemos nus a esse mundo e de mãos vazias, e voltaremos à terra através da decomposição corporal – e ponto.
Fonte: Reencarnação ou Ressurreição – Snyder – Ed. Vida Nova

Entendemos que da mesma forma é depreendido pelo professor e que concordamos, em nada a passagem no livro de Jó tem a ver com reencarnação, mas percebemos que voltar ao ventre de nossa mãe era a forma como os judeus entendiam no processo de voltar à vida, ou melhor, a reencarnação, mesmo que não compreendido tão claramente.

Thiago Toscano Ferrari – Julho / 2012
[su_box title=”Referências bibliográficas” style=”default” box_color=”#d2d2d2″ title_color=”#FFFFFF” radius=”3″ class=”” id=””] Bíblia Sagrada, São Paulo: SBB, 2000.
Texto sugerido: “O diálogo entre Jesus e Nicodemos”. [/su_box]

Thiago Ferrari
Thiago Ferrari
É Articulista do GAE desde 2005. É Técnico em Mecânica, Engenheiro Mecânico, MBA em Gestão de Projetos PMI - PMBoK e Bacharel em Teologia. Atua no setor de energia desde 2002. Nascido em lar espírita desde Abril/1978. Voltou ao Movimento Espírita em 2004, devido a uma breve passagem pelo movimento evangélico desde 1998 a 2003.
Esta reflexão não necessariamente representa a opinião do GAE, e é de responsabilidade do expositor.

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