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Os diversos Jesus

Há vários Jesus: histórico, bíblico, dogmático, mítico etc. Com o histórico não há polêmicas, exceto para os ateus fundamentalistas. Também com o bíblico, as coisas sempre correram razoavelmente bem.

Já o Jesus dogmático e mítico existe como sendo, reciprocamente, um produto das elucubrações dos teólogos e esotéricos (gnósticos), as quais podem conter verdades, sim, que até engrandecem o cristianismo e o próprio Jesus. Porém essas elucubrações criaram também doutrinas estranhas ao cristianismo.

Vejamos um exemplo do que chamo de “teologia de ficção”, do bispo de Óstia, São Hipólito, mártir do 3º século e um verdadeiro santo, mas cuja inspiração jamais poderia provir de um espírito iluminado ou santo. Para ele, Jesus nasceu no ano de 5.500 do mundo, pois a medida da “Arca da Aliança” era de 5,5 côvados, e cada um correspondia a 1.000 anos. Essa sua tese baseava-se na doutrina bíblica de que Jesus representa a “Nova aliança”.

Seu erro consistiu, pois, em ter fantasiado uma verdade, exagerando-a, o que, aliás, é um procedimento comum entre os teólogos. E ainda bem que a Igreja não embarcou nesse barco furado, mas infelizmente embarcou noutros. Daí as grandes e numerosas polêmicas teológicas que fizeram do cristianismo uma espécie de pano de chita, tal a sua variedade de doutrinas.

E, para tentar assegurar a sua unidade, a Igreja transformou algumas delas em dogmas. Mas até hoje, e principalmente hoje, uma boa parte dos cristãos não acata certos dogmas ou acata-os apenas da boca para fora, para evitar para si problemas com a Igreja e, talvez, por medos gravados no seu inconsciente coletivo nas épocas da Inquisição.

O Jesus histórico importa como prova científica de sua existência para os cépticos, embora, na realidade, o mais importante seja o Jesus bíblico. Mas o Mestre advertiu-nos dizendo que todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto (Mateus 12,25). E é justamente isso que está acontecendo com o cristianismo assolado por doutrinas estranhas à Bíblia.

De fato, devido à excentricidade de certas doutrinas teológicas, os cristãos estão cada vez mais divididos, o que faz crescer no mundo a dúvida sobre o Jesus histórico e até sobre a própria existência de Deus!

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José R. Chaves
Escritor, professor de português, jornalista, biblista, teósofo, pesquisador de parapsicologia e do Espiritismo. Tradutor de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Kardec. E autor dos livros, entre outros, “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” e “A Face Oculta das Religiões”, ambos lançados também em inglês nos Estados Unidos.